Alunos da PUC Rio acusam professor de racismo e perseguição contra estudantes

Enviado por / FonteCNN, por Elis Barreto

Uma das alunas que afirma ter sido vítima vai protocolar nesta quinta-feira (16) um pedido de abertura de processo administrativo contra o docente

O Diretório Central de Estudantes da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (DCE-PUC Rio) acusa um professor da universidade por assédio moral, perseguição e racismo contra alunos negros e indígenas.

Uma carta aberta, assinada por toda a turma do curso de mestrado de Ciências Sociais e por entidades da universidade foi publicada nesta quarta-feira (15). Em junho deste ano, alunos já haviam denunciado para a faculdade o comportamento do professor, mas segundo os próprios estudantes, até o momento, seis meses depois, nenhuma providência havia sido tomada.

Nesta quarta-feira (15), após a divulgação da carta, o departamento do curso de Ciências Sociais emitiu uma nota afirmando que foi surpreendido pelo documento, e que na avaliação deles “se transformou em denúncia pública um desagradável episódio de conflito em sala de aula, originalmente suscitado por um questionamento feito por estudantes, da ausência de autoras e autores negros.”

“Desde o início o corpo docente do Departamento de Ciências Sociais entendeu que o debate suscitado por esse episódio deveria ser travado não como uma questão pessoal e pontual, mas sim como uma questão institucional, compatível com a compreensão de que a lógica do racismo é estrutural e persistente.”, afirmam em nota.

Luísa Tavares, estudante do programa de mestrado da PUC-Rio e uma das alunas da turma de mestrado, afirmou que foi constrangida e perseguida pelo professor. Diante da ausência de atitude da universidade, Luísa contratou um advogado e irá protocolar, nesta quinta-feira (16), um pedido de abertura de processo administrativo contra o docente.

“O dia 27 de maio foi o estopim de algo que já vinha acontecendo ao longo do semestre. Já existiam momentos de estresse, com esse professor, durante as aulas. Não só comigo, mas com outros alunos pretos e indígenas. A mim, ele dirigia comentários ácidos quando eu ia comentar algo e interagir na aula. Uma vez ele disse que era aula de pensamento político brasileiro e não sobre pensamento racial.”, afirma a aluna.

O advogado de Luísa, Bruno Cândido, afirmou que irá requerer a participação de movimentos sociais para compor e acompanhar o processo, já que o regimento interno da própria PUC Rio permite essa movimentação.

“Como racismo é crime imprescritível e se expande em sua interpretação em outras formas históricas de subalternização, pretendemos oferecer as autoridades um relatório de todas as agressões discriminatórias que nos forem relatadas.”, afirma o advogado.

Racismo no Brasil

Dados do Ministério dos Direitos Humanos mostram que até novembro deste ano, foram feitas 1.129 denúncias de discriminação racial no Brasil. São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais são os estados com a maior quantidade de casos. Ao longo de 2021, novembro foi o mês com o maior número de denúncias, 133. A maioria das vítimas, 71,48%, são do sexo feminino. A maioria dos autores das discriminações são do sexo masculino, 45,96%. 35,05% são do sexo feminino e 18,99% não identificados.

No dia 28 de outubro deste ano, o Supremo Tribunal Federal equiparou o crime de injúria racial ao crime de racismo, sendo agora imprescritível. Ou seja, não importa quando o crime foi cometido, ele ainda será passível de denúncia e punição pela justiça.

+ sobre o tema

Relatório aponta aumento de discriminação no futebol envolvendo brasileiros

Somente em 2018, houve o registro de 44 ocorrências...

Crossfit perde patrocinador e enfrenta crise após tuíte considerado racista 

Um comentário considerado racista pode colocar o Crossfit, modalidade...

Mulheres negras detêm coroas dos principais concursos de miss pela 1ª vez

Com a vitória de Abena Appiah, 27, no Miss...

Neonazista suspeito de racismo apanha na prisão e nega crimes

O autointitulado neonazista Antonio Donato Baudson Peret, de...

para lembrar

Projeto que facilita acesso a armas é estelionato parlamentar

Não é novidade que o governo de Jair Bolsonaro foi de...

Fotógrafo do Jornalistas Livres é morto a facadas no centro de São Paulo

O fotógrafo Felipe Terremoto, de 25 anos e ligado ao coletivo Jornalistas...
spot_imgspot_img

Carandiru impune é zombaria à Justiça

É um acinte contra qualquer noção de justiça que 74 agentes policiais condenados pelo massacre do Carandiru caminharão livres a partir de hoje. Justamente na efeméride de...

Doutorando negro da USP denuncia racismo em ponto do ônibus da universidade; testemunhas gravaram gesto racista

Um aluno de doutorado da Universidade de São Paulo (USP) denunciou ter sofrido racismo em um ponto de ônibus no Conjunto Residencial Universitário (CRUSP), na Cidade...

TJ-SP extingue penas de policiais condenados pelo Massacre do Carandiru; PMs já haviam recebido perdão de Bolsonaro em 2022

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) extinguiu neste mês todas as penas dos 74 policiais militares condenados por executarem a tiros 77 presos durante...
-+=