Até pouco tempo atrás, Amanda Gorman tinha lido seus poemas em voz alta diante de duas das maiores plateias dos Estados Unidos —na posse do presidente Joe Biden e no Super Bowl.
Agora, suas palavras estão chegando aos leitores num formato mais íntimo. É numa edição comemorativa de “The Hill We Climb”, a colina que escalamos, o poema que ela leu na cerimônia da posse presidencial, num livreto de 32 páginas com introdução de Oprah Winfrey.
O livro chegou às livrarias americanas nesta semana e já tem garantida a primeira posição nas listas de best-sellers.
“Fiquei muito empolgada quando decidiram publicar ‘The Hill We Climb’ em forma de livro, porque sabia que assim seria possível o integrar às vidas das pessoas de novas maneiras”, diz Gorman, em entrevista por telefone.
Ela já viu no Instagram fotos de pessoas dando o livro de presente umas às outras, ou o pondo em cestas de Páscoa. “É algo que não se pode fazer com um vídeo, não se pode fazer com uma performance, mas quando o poema existe numa forma física, de repente ele pode ser entrelaçado às maneiras pelas quais as pessoas se celebram e se acalentam mutuamente.”
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“Quando recito um poema ao vivo, o que realmente ocupa meu pensamento é a forma como ele soa”, afirma a escritora. Mas quando escreve para a página, na ausência de sua voz, cadência e entonação, ela está se propondo uma pergunta muito diferente. “As pessoas podem não estar comigo no gramado diante da sede do Congresso, elas podem não estar comigo no palanque”, ela disse. “Que sensação o poema causa ao leitor como uma experiência direta dele?”
A carreira editorial de Gorman está apenas começando, o que não é surpresa. Ela está “afundada até os joelhos” no processo de escrever sua primeira coleção de poemas —“acho que será uma espécie de acerto de contas poético com esses últimos meses que vivemos”. O lançamento está marcado para setembro.
“Haverá alguns poemas que nem mesmo minha família viu”, ela diz, “e por isso acredito que esse será um novo lado meu ao qual mesmo as pessoas que conhecem meu trabalho há algum tempo serão apresentadas”. Quando questionada se o novo trabalho tinha inspirações igualmente políticas, ela responde acreditar que “toda arte é política”.
Não muitos poetas podem afirmar que seus versos chegaram a tantas pessoas quando os de Gorman, nas curtas semanas transcorridas desde o dia 20 de janeiro.
Mas a despeito da fama, Gorman, de 23 anos, conta que continua a ter o mesmo compromisso para com a sua arte.
“Mesmo que todos os outros aspectos de minha vida tenham mudado —em termos de visibilidade, ou de me tornar mais reconhecível—, a escrita não mudou.” Ela ainda acorda a cada manhã e escreve por horas, e esse trabalho se transforma em poesia.
“Continuo a pilotar segundo a minha intuição”, diz. “Mas ainda sou capaz de encontrar minha velha casa a cada vez que apanho uma caneta.”
Tradução de Paulo Migliacci