Então, o Governador Sérgio Cabral se encontra com a família de um homem quase com certeza morto. Um homem assassinado, quase com certeza por policiais comandados pelo Governador Cabral.
E o Governador Cabral declara:
“Nada justifica o desaparecimento de uma pessoa que foi checada pelo próprio comandante da UPP como trabalhador”.
E, examinando a frase do Governador Cabral, fica claro porque sua polícia acha que pode fazer o que bem entender nas favelas, pacificadas ou não. Logo ali, na oração subordinada.
“Nada justifica o desaparecimento de uma pessoa”, deveria ter dito o Governador Cabral. Mas não. Ele não disse isso. Para o Governador Cabral, há mais requisitos para que o desaparecimento seja “injustificável”:
a) “que foi checada pelo próprio comandante da UPP”. O que torna a polícia o juiz de quem pode ou não pode existir. Os comandantes das UPP’s do Governador Cabral agora tem também o direito de “checar” pessoas da comunidade que deveriam proteger.
b) “como trabalhador”. O Governador Cabral joga no lixo a Constituição Federal, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, a decência e a civilização, restando apenas um estado totalitário onde a polícia decide quem vive e quem morre, quem permanece e quem desaparece. Com base na sua própria percepção da “honestidade” do sujeito “checado”.
Para que juízes, advogados, promotores? Ora, basta a polícia “checar” se o cidadão é “trabalhador”. Se não for, quem vai se importar se ele for torturado, morto, desaparecido? Certamente não os “trabalhadores” do Governador Cabral, estes estão ocupados com o progresso e a ordem.
Ladrões, assassinos, traficantes, para que julgá-los e condená-los? Se “todo mundo” sabe que o que eles merecem mesmo é a morte? E supostos ladrões, supostos assassinos, supostos traficantes, ora, às vezes é preciso quebrar os ovos para fazer um omelete e, é melhor um inocente morto que um culpado livre, não é?
E em meio a tudo isso, o Governador Cabral não teve sequer a decência de ao menos insinuar, sequer de forma sutil, que sua polícia prendeu ilegalmente ,”para averiguações”, um morador da favela que esta mesma polícia deveria proteger e possivelmente o matou por motivo torpes, quase certamente relacionados a alguma rixa pessoal de um policial com o morador morto. Desapareceram com o corpo, certos de sua impunidade, já que, como demonstrado na Maré, a vida de um morador das favelas e comunidades carentes no Estado do Governador Cabral não vale nada.
E o Governador não responde, claro, à pergunta central, cuja resposta sua polícia sabe: Onde está Amarildo?
Paulo Candido é Doutorando em Psicologia do Desenvolvimento e procrastina a tese escrevendo uns textinhos despretensiosos por aí… Esse texto foi publicado originalmente em seu Facebook.
Onde está Amarildo? – Por: Allan da Rosa
Fonte: Blogueiras Negras