Após vídeo com 1 milhão de visualizações, modelo que sofreu racismo em ônibus no DF ouve relatos de outras vítimas

Jovens contaram casos de discriminação até na própria escola, segundo Nayce Samara

Do R7

A coragem da modelo em relatar o caso de injúria racial que sofreu no ônibus de volta para casa, em Ceilândia (DF), estimulou a coragem em outras vítimas. Dentre as pessoas que geraram mais de um milhão de visualizações do vídeo dela no Facebook, muitas contaram casos de racismo que elas mesmo enfrentam, seja em episódios isolados ou diariamente.

Nayce Samara, de 22 anos, recebeu as mensagens em seu perfil na rede social. Na maioria, as denúncias são de meninas maisnovas que ela, e que também são insultos ao cabelo crespo delas.

— Recebi muitas mensagens de apoio, e milhares de pessoas que contaram casos parecidos que elas sofreram. Foram injúrias contra jovens e adolescentes por conta do cabelo e da cor da pele delas.

Racismo ocorre com frequência no DF. Relembre alguns casos

Além de compartilhar as próprias histórias, muitas jovens também buscaram orientação para Nayce sobre o que fazer para enfrentar o racismo. Algumas vítimas sentem medo de levar a denúncia adiante, e encontraram na modelo um exemplo e palavras de motivação.

— Ouvi a história de uma menina de 13 anos que me pediu conselho, pois ela sofre com racismo na escola. Só que ela tem receio de falar com a polícia porque disse que o pai dela é ex-presidiário. Muitas não falam nada porque tem medo de como os pais vão reagir, e porque não tem muita conversa em casa para orientar essas meninas que ela tem sim um cabelo bonito. Racismo é crime e elas podem denunciar.

No caso do ônibus, Nayce conta que, quando voltava para casa depois de trabalhar como modelo no Setor Hoteleiro Norte de Brasília, na última terça-feira (29), duas senhoras sentadas ao lado dela no ônibus disseram que ela “era até bonita, mas com aquele lenço de macumbeira para cobrir o cabelo ruim, ficava feia”.

Essa, porém, não foi a primeiro vez que Nayce sofre com comentários como esses. Mesmo depois da denúncia, algumas das mensagens que a jovem recebe no Facebook são ofensas. Por isso, a modelo pretende se tornar maisativa na luta contra o preconceito.

— Eu postei esse relato no Facebook porque queria contar minha história para meus amigos e minha família. Nunca imaginaria que teria este alcance, mas já que foi tão longe, vou aproveitar para apoiar o movimento negro. A vida inteira sofri com isso, e sempre tive mania de postar, mas antes escrevia textos menores e compartilhava vídeos.  Agora vou me engajar mais nessa luta ao lado dos grupos.

Também pelo Facebook, outra moradora do DF também foi alvo de ofensas racistas. Em abril deste ano, a jornalista Cristiane Damacena começou a sofrer os ataques com a postagem de uma foto em seu perfil. Ela foi chamada de “macaca” e “escrava” e sofreu zombarias por causa da cor da pele. O caso é investigado pela 26ª Delegacia da Polícia Civil (Samambaia).

Em 2015, o Núcleo de Enfrentamento à Discriminação do MPDFT (Ministério Público do Distrito Federal e Territórios) já ofereceu 71 denúncias de injúria racial e racismo, em diversas regiões do DF. Um destes casos aconteceu em Vicente Pires (DF), em julho deste ano, no qual um homem disse para a dona de um restaurante e para a filha dela que “negros não podem ter restaurante” e que “odeia a raça negra”.

O crime de racismo acontece quando a conduta discriminatória é dirigida a um determinado grupo ou coletividade. Já a injúria racial consiste em ofender a honra de alguém com a utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. Para o site oficial do MPDFT, o promotor de Justiça Thiago Pierobom explica que os casos acontecem até no trabalho.

— Quando há conflitos envolvendo pessoas negras, o ofensor faz questão de lembrar ao ofendido o seu lugar na cultura racista: de subalternidade. Não é possível tolerar tais atos de discriminação racial.

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