Depois de passar 24 dias internado, o sofrimento de Daniel Zamudio chegou ao fim. O chileno de 24 anos, homossexual, morreu na última terça-feira após ter sido atacado e espancado em Santiago por quatro jovens simpatizantes neonazistas. O crime causou revolta na população chilena e desencadeou, por todo o país, atos e manifestações de solidariedade para com a família do jovem.
Ante o ocorrido, a Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) tornou público seu repúdio ao crime e manifestou solidariedade à família e aos amigos. A CNDH lembrou que a cada semana uma pessoa perde a vida em virtude de crimes de ódio e alertou o Estado para a necessidade de implantar políticas públicas que garantam segurança, saúde, educação e igualdade de direitos para pessoas Trans, Lésbicas, Gays e Bissexuais (TLGB) no país.
O Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas para os Direitos Humanos também se manifestou sobre o caso pedindo ao Estado chileno maior rigor nas leis para punir crimes desta natureza. A ONU sugeriu ao país adotar uma lei que puna os delitos baseados na orientação sexual das vítimas.
– Lamentamos o ato violento e criminoso que tirou a vida deste jovem e pedimos ao congresso do Chile para passar uma lei contra a discriminação em razão da orientação sexual e identidade de gênero, em plena conformidade com as normas internacionais de direitos humanos – ressaltou o porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), Rubert Colville.
Após o falecimento do jovem, o presidente Sebastián Piñera se pronunciou por meio de sua conta na rede social Twitter afirmando que o ocorrido com Daniel feriu não só sua família, mas todas as pessoas de bem. Além de oferecer seu carinho e solidariedade aos pais, amigos e família, o mandatário assegurou que a morte não ficará impune e reforçou “o compromisso total do governo contra toda forma de discriminação arbitrária e com um país mais tolerante”.
Após críticas do Movimento de Integração e Liberação Homossexual (Movilh), a Alta Hierarquia da Igreja Católica quebrou o silêncio que manteve desde o início do caso e se pronunciou por meio de Jaime Coiro (Conferencia Episcopal) afirmando que a morte de Daniel ocorreu em “circunstâncias tão dolorosas e repudiáveis, como é a depreciação da pessoa humana que se traduz em intolerância, agressão e violência, base sobre as quais não se pode construir o futuro da comunidade humana”.
A população do Chile e de fora do país também se manifestou repudiando as agressões ao jovem. Mensagens de solidariedade foram mandadas à família e velas foram acessas para demonstrar que o povo compartilhava da dor dos parentes de Daniel. O Movilh prepara atos de homenagem a nível nacional para os próximos dias e o porta-voz do Governo, Andrés Chadwick anunciou que tramitará com urgência o Projeto de Lei que Estabelece Medidas contra a Discriminação.
Entenda o caso
No dia 3 de março, em Santiago do Chile, Daniel Zamudio foi agredido por Raúl López Fuentes (25 anos), Patricio Ahumada Garay (25 anos), Alejandro Angulo Tapia (26 anos) e Fabián Mora (19 anos), simpatizantes do neonazismo
O jovem sofreu golpes na cabeça, foi queimado com cigarro, chutado, levou socos no estômago, teve uma garrafa quebrada em sua cabeça e o corpo marcado com símbolos neonazistas. Daniel passou 24 dias internado, mas não resistiu. Segundo boletim do Serviço Médico Legal, a causa morte foi traumatismo crânio-encefálico.
Os acusados já tinham passagem pela polícia por ataques xenófobos a imigrantes peruanos. Todos estão em prisão preventiva, pois representam um perigo para a sociedade. A família de Daniel e a Intendência Metropolitana apresentaram novas denúncias contra os acusados, desta vez por homicídio qualificado consumado já que Daniel faleceu. A denúncia anterior foi por homicídio qualificado frustrado.
Fonte: Correio do Brasil