Baleado, lavrador é socorrido, mas é assassinado a caminho do hospital no Pará

Guilherme Balza

A Polícia Civil do Pará identificou o lavrador em Eldorado dos Carajás, sudeste do Pará: trata-se de Marcos Gomes da Silva, 33, natural do Maranhão. Segundo o boletim de ocorrência, ele foi assassinado por volta das 21h desta quarta-feira (1º) em uma estrada que liga a zona rural à sede do município, quando era levado para o hospital por um amigo. Silva já havia sido baleado algum tempo antes da execução.

O boletim de ocorrência foi registrado por Dejesus Martins Araújo, vizinho de Silva e que transportava a vítima para o hospital. De acordo com ele, seu carro foi interceptado por dois homens armados, que teriam exigido que Araújo corresse para não ser morto, ele obedeceu aos criminosos, mas Silva acabou sendo morto no local.

De acordo com o depoimento, Araújo retornou ao local somente na manhã desta quinta-feira (2), quando viu o corpo do vizinho e avisou as autoridades policiais. O inquérito está sendo presidido pelo delegado de Eldorado dos Carajás, Elias Jorge de Carvalho, que está no local onde o crime ocorreu realizando um levantamento da área.

Segundo a Polícia Civil, o corpo da vítima está no IML (Instituto Médico Legal) de Marabá (PA). O superintendente regional do sudeste paraense, delegado Alberto Henrique Teixeira, está no local e aguarda a chegada de familiares da vítima para obter mais informações sobre o lavrador.

É a quinta morte de camponeses na região norte em menos de dez dias, a quarta no sudeste paraense. Na semana passada, três mortes ocorreram em Nova Ipixuna (a 625 km de Belém), no sudeste paraense: o casal de castanheiros José Cláudio Ribeiro da Silva, 52, e Maria do Espírito Santo da Silva, 50, ativistas que denunciavam a ação ilegal de madeireiros, foi executado na terça-feira (24); no domingo (29), foi encontrado o corpo de Eremilton Pereira dos Santos, 25, que morava no mesmo assentamento do casal.

Na sexta-feira (27), a vítima foi Adelino Ramos, o Dinho, liderança do Movimento Camponês Corumbiara (MCC), assassinado enquanto vendia verduras em Vista Alegre do Abunã, distrito de Porto Velho (RO). Dinho foi um dos sobreviventes do massacre de Corumbiara –ocorrido em agosto de 1995, no qual pelo menos 12 pessoas morreram nas mãos de pistoleiros e PMs– e também denunciava a atuação de madeireiros.

O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse hoje (2) que o governo deve tomar “medidas mais duras” para enfrentar a violência no campo na Amazônia. Na última semana, quatro lideranças camponesas da região foram assassinadas.

“Fiquei sabendo, agora há pouco, que morreu mais um agricultor em Eldorado dos Carajás [PA], que é uma região simbólica”, contou Carvalho, pouco antes de dirigir-se à reunião com a presidenta Dilma Rousseff, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e os governadores do Pará, Simão Jatene, de Rondônia, Confúcio Moura, e do Amazonas, Omar Aziz. Os três estados foram palco de conflitos agrários recentes.

“Já tomamos uma série de medidas para tentar conter a violência na região, mas, ao que tudo indica, vamos ter que tomar medidas mais duras”. Carvalho deu as declarações depois de fazer a abertura da reunião do governo com as centrais sindicais sobre o fator previdenciário.

Massacre de Carajás


Em 17 abril de 1996, Eldorado dos Carajás foi cenário do massacre de 19 sem-terra que protestavam na rodovia PA-150. O episódio completou 15 anos, com os dois únicos condenados pelas mortes –o coronel Mário Collares Pantoja e o major José Maria Pereira– em liberdade. Pelo menos 154 policiais estavam envolvidos com o massacre.

Boa parte dos sobreviventes e testemunhas do massacre vive hoje no Assentamento 17 de Abril, que fica na fazenda Macaxeira, a mesma ocupada em abril de 1996. Segundo o MST, cerca de 6.000 pessoas moram no local, “uma das maiores agrovilas do país”. A reportagem entrou em contato com militantes do MST no Pará, mas nenhum deles sabia da morte de Marcos.

 

Fonte: UOL

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