Menos de 50% das meninas tomaram as 2 doses da vacina contra HPV em 3 anos de imunização

Segundo especialista, “maior dificuldade é convencer adolescente a se vacinar”

Por Eugenio Goussinsky, para R7

Um dos fatores que impulsionaram a vacinação das meninas contra o HPV (papilomavírus humano), em 2014, foi a parceria com as escolas espalhadas pelo Brasil que, na época, fizeram o índice de população imunizada chegar a quase 100%. Nos anos seguintes, em função da interrupção da parceria com as unidades escolares, o número baixou para em torno de 50%. O Ministério da Saúde informa que, nos três anos de vacinação (entre 2014 e 2016), 46% das meninas dentro das faixas etárias estipuladas receberam as duas doses.

Segundo o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, o infecto pediatra Renato Kfouri, esses números estão dentro do padrão mundial, devido à dificuldade geral que é levar qualquer adolescente para se vacinar. No segundo ano de implantação da vacinação, devido à diminuição do público vacinado, o então ministro da Saúde, Arthur Chioro, chegou a dizer que muitos pais pensavam, erroneamente, que a vacinação iria antecipar o início da vida sexual dos filhos. Kfouri, porém, não considera que, no momento, isso seja um empecilho.

— Não vejo preconceito, a maior dificuldade é convencer o adolescente a se vacinar, de uma maneira geral. Não é uma questão particular da vacina contra o HPV. Culturalmente, no Brasil e no mundo, há uma dificuldade de imunizar o adolescente. O conceito de vacinar fora da idade infantil não é uma tarefa fácil, há dificuldade também de cobertura de vacinas de hepatite B, tétano, sarampo e outros para essa faixa etária.

Para a pediatra Flávia Bravo, presidente regional da SBIm, no Rio de Janeiro, a realidade atual já indica a necessidade de os pais superarem qualquer preconceito em relação à sexualidade dos filhos.

— É responsabilidade dos pais formarem seus filhos para a vida, então eles têm de ter serenidade e conversar sobre prevenção de doenças como as relacionadas ao HPV e a outras. Estamos falando de saúde e não de sexo.

Kfouri ressalta a importância da retomada da parceria com as escolas para que o índice de jovens imunizados volte a subir.

— Observamos experiências em paises que tiveram sucesso batante elevado nas coberturas vacinais quando havia vacinação na escola, como foi feito na primeira dose do HPV em 2014, quando houve perto de 100% de cobertura vacinal. Um programa vacinal no qual a unidade vai até a escola e realiza a vacinação possibilita números que costumamos ver na infância, perto de 95 a 100 % da faixa etária alvo vacinada. Essa parceria das escolas, entre o Ministério da Educação e o da Saúde seria fundamental para obtermos níveis maiores de público vacinado.

Segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde, é de interesse do Ministério retomar a parceria com as escolas e isso poderá ocorrer a partir do início do ano letivo. Nos últimos anos, a parceria não teve continuidade porque houve dificuldade de integrar todas as escolas no projeto, já que grande parte delas é municipal.

HPV em meninas

As meninas de 9 a 13 anos podem ser vacinadas nos postos de saúde de todo o Brasil. Uma novidade é que as garotas que chegaram aos 14 anos, sem tomar a vacina ou que não completaram as duas doses indicadas, poderão ser vacinar. A estimativa é de que 500 mil adolescentes estejam nessa situação. Até o ano passado, a faixa etária para o público feminino era de 9 a 13 anos.

A vacina disponível no SUS (Sistema Único de Saúde) é quadrivalente, ou seja, ela protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18. Os tipos 16 e 18 são responsáveis por 70% dos cânceres de colo de útero e 90% das verrugas genitais.

Meningite C

Junto com a vacina contra o HPV, o SUS também passará a oferecer a vacina contra meningite C  aos adolescentes, meninos e meninas. Até então, a vacinação era direcionada apenas a menores de 5 anos.​

Kfouri diz que a imunização pode ser feita no mesmo momento que o adolescente receber a vacina contra o HPV, mas a recomendação é para que seja no outro braço. Ele afirma que este tipo de combinação pode estimular a ida dos adolesentes à unidades.

— Essa é uma expectativa, diante da dificuldade se vacinar adolescente. Na hora em que tornarmos o calendário mais robusto, sem a necessidade de o adolescente receber separadamente vacinas como a de meningite, de HPV, de hepatite, de tétano, a gente talvez consiga uma melhor estratégia de comunicação e uma sensibilização maior da população em relação à importancia da vacinação.

Em 2017, podem ser vacinados meninos e meninas de 12 e 13 anos. Em 2018, de 11 e 12 anos, em 2019, de 10 e 11 anos e em 2020, de 9 e 10 anos. A aplicação será de uma dose ou reforço, de acordo com a situação vacinal.​​

 

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