Bento Rodrigues: qual é o preço da vida?*

A tragédia que se abateu sobre Bento Rodrigues, distrito de Mariana foi, usando a expressão de Garcia Marques, uma “tragédia anunciada”, cuja responsabilidade acabará recaindo sobre os moradores, indivíduos teimosos que insistem em morar num lugar em que a impunidade e o descaso para com o meio ambiente não leva em conta o ecossistema e muito menos a vida!

Enviado por Jorge Enrique Mendoza Posada via Guest Post para o Portal Geledés

Muitas explicações estão surgindo para inocentar a empresa de mineração de sua responsabilidade em relação ao rompimento de duas de suas barragens produzindo o mar de lama que destruiu o subdistrito de Bento Rodrigues e que continua seu caminho, inundando outras localidades de Minas Gerais e poluindo o Rio Doce ao logo de seu leito em Minas e no Espirito Santo, um mar de lama tóxica com efeitos multiplicadores para as populações ribeirinhas e impacto ainda imprevisível para o meio ambiente.

O pior é que os tecnocratas de plantão do governo mineiro e da mineradora saem em defesa dela, afirmando que os laudos sempre foram confiáveis e não existia nenhum perigo de rompimento das barragens. Se os laudos eram confiáveis e aconteceu a tragédia, de forma pragmática, onde está então a falha? Vamos atribuir o fenômeno atremores de terra? Ou, talvez, terá sido uma negligência dos trabalhadores, que coitados, por inexperiência, não alertaram aos chefes e a suas famílias que em poucos minutos perderiam suas residências, seus sonhos, seu patrimônio, suas memórias, suas vidas?

Qual é o preço da vida? Como se justifica a necessidade de fazer uma exploração mineral tão agressiva, sem nenhum cuidado ecológico e com a vida dos habitantes de Mariana e de Minas Gerais? Qual é o preço que estas populações estão pagando pelo desvario dessas empresas de ter que ganhar dinheiro agora, e que o presente e o futuro será responsabilidade de outras gerações.

Onde a fiscalização municipal, estadual e federal, que entram em conluio, há muitos anos com os donos das mineradoras secando nascentes e destruindo fontes de água, tão necessárias para a existência dos seres vivos de nossa região?

Não nos estranharia que surgisse uma demanda judicial contra a população de Bento Rodrigues pela teimosia de morar, há mais de cem anos, no lugar que os poderosos escolheram para lucrar, no apetite de extrair mais riqueza das Minas Gerais sem qualquer consciência humana e ecológica.

Qual é o preço da vida?

Sobre o Autor 

Jorge Enrique Mendoza Posada, é economista, poeta, escritor, professor universitário, militante negro, um dos fundadores do Movimento Negro Unificado em Minas Gerais, autor do poema Um NEGRO SEMPRE SERÁ UM NEGRO, na década de 80.

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