Causa da violência contra mulheres é motivo fútil, afirma promotora

Promotora Ana Lara Camargo de Castro atua em uma Vara especializada na defesa de mulheres vítimas de violência. (Foto: Marcos Ermínio)

por Renan Nucci

Questões culturais como machismo, patriarcalismo e outros tipos de subjugação do gênero feminino ainda são os fatores mais determinantes nos casos de violência doméstica, afirma Ana Lara Camargo de Castro, da Promotoria de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do Ministério Público de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande. Geralmente, a causa da violência doméstica é um motivo fútil.

Há 17 anos atuando no Ministério Público, e desde 2006 trabalhando exclusivamente com casos que envolvem a Lei Maria da Penha, Castro promove uma reflexão sobre as agressões sofridas pelas mulheres e afirma que somente uma reeducação social seria capaz transformar este cenário sociocultural, que ainda apresenta os homens como seres humanos de qualidade superior e detentores de direito e liberdades não concedidos às mulheres.

A violência doméstica geralmente possui motivação fútil. Alcoolismo, drogadição e questões financeiras são fatores exacerbadores, mas é o machismo revelado no sentimento cotidiano de posse que determina a maioria absoluta de casis do tipo.“Ela estava de saía curta, chegou em casa fora do horário combinado ou não havia feito a comida na hora certa. Estas são principais afirmações dos agressores que vêem as mulheres como objetos de sua propriedade, e ainda tentam culpá-las pelo ocorrido. Tudo isso é fruto do mais puro machismo”, afirma a promotora.

Segundo ela, o Estado deve efetivar esforços para a priorização de políticas públicas de combate à discriminação de gênero, bem como investir recursos para melhoria no aparato protetivo e repressor, mas não adianta a comunidade cobrar as autoridades pedindo exclusivamente a punição aos agressores. O enfretamento à violência é questão de adesão coletiva.

“Muitos profissionais que atuam no poder público também refletem nas suas atuações o pensamento machista arraigado no meio social. E, infelizmente, ainda hoje a realidade em que vivemos repercute essas ideias retrógradas de que, por exemplo, a obrigação da mulher é cuidar do lar e dos filhos, quando, na verdade, o casal deveria fazer isto em conjunto. Há enorme precoceito com as mulheres independentes, donas de próprio corpo e do próprio destino. Isso tem que acabar”, explicou.

Reeducação – Somente uma profunda reeducação poderia mudar este comportamento, inclusive, com a inclusão da temática de gênero nas grades escolares e no treinamento de diversas carreiras públicas, reforça Castro, afirmando que a inferiorizarão da mulher está presente nas mais variadas instâncias, tanto que, na prática, o próprio Estado Brasileiro não leva a questão da violência doméstica tão a sério como deveria, deixando de investir recursos absolutamente necessários, mesmo existindo leis específicas que determinem isso.

“Basta olhar a estrutura dos órgãos competentes de combate à violência contra a mulher, que a gente consegue ver a prioridade dada ao tema. As vítimas também sofrem com a falta de capacitação de alguns servidores da rota crítica institucional. Muitas, quando vão fazer uma denúncia, são tratadas como se fossem culpadas e são revitimizadas nesse percurso. Algumas perguntas mal elaboradas as colocam em situação inversa, e por este motivo muitas delas desanimam ou resistem em procurar apoio, pois, não se sentem acolhidas”, reclamou.

 

Fonte: Campo Grande News

+ sobre o tema

As Elizas do Brasil e suas mortes anunciadas

AS ELIZAS DO BRASIL E SUAS MORTES ANUNCIADAS Por Cecilia...

Marcha das Vadias mulheres contra a violência sexual

Ação foi contra a ideia de culpar as mulheres...

para lembrar

spot_imgspot_img

Machismo e patriarcado afetam não só as mulheres, mas também os homens e a crianças

O Projeto de Lei (PL) nº 1974/2021, de autoria da Deputada Sâmia Bomfim (PSOL/SP) e do Deputado Glauber Braga (PSOL/RJ), cuja tramitação pode ser...

Feminicídio: 4 mulheres são mortas por dia no Brasil — por que isso ainda acontece com tanta frequência?

Mariele Bueno Pires, de 20 anos, foi achada morta em casa, em Ponta Grossa, no Paraná, em 23 de agosto. Em seu corpo seminu,...

Agosto Lilás e os direitos das mulheres: ‘políticas precisam ser implementadas não apenas nas capitais’

O mês de agosto é marcado por uma importante campanha de conscientização: o Agosto Lilás, ação voltada para a promoção dos direitos das mulheres. A iniciativa busca combater...
-+=