Com shows marcados no Brasil, pianista Herbie Hancock diz que se recusa a encaretar: ‘Sou igual ao que era aos 20’

Músico que começou na banda de Miles Davis, nos anos 1960, fala sobre novo disco, que terá Snoop Dogg, Kendrick Lamar e Thundercat

por Silvio Essinger no O Globo

O pianista Herbie Hancock Foto- Divulgação

Pianista que aos 23 anos foi escolhido por Miles Davis para promover uma revolução no jazz (e que depois também fez as suas), o americano Herbie Hancock chega ao Brasil no próximo mês com surpresas na manga. Ele se apresenta dia 17 de novembro, em São Paulo, no Credicard Hall; e 19 no Rio, no Km de Vantagens Hall). Ainda inquieto, Herbie confirma para o início do ano que vem o lançamento de seu primeiro álbum em oito anos: o esperado disco com participações do rapper Kendrick Lamar, dos novos jazzistas Thundercat e Kamasi Washington e do DJ Flying Lotus. E avisa: “Eu me recuso a perder o meu espírito juvenil!”

Aos 78 anos de idade, o que o mantém ainda fazendo shows e viajando pelo mundo?

Bem, eu amo viver a vida. E amo até as coisas difíceis da vida. Ficar mais velho é algo que me suscita muitas observações: como você acumulou muita experiência, tem quem prefira permanecer na zona de conforto. Vemos as expressões das pessoas ficarem velhas por causa de suas idades. Mas não é verdade que percamos nossa juventude quando nossos anos aumentam. É uma decisão pessoal. Se resolvermos que os velhos devem agir deste ou daquele jeito, teremos perdido nosso espírito juvenil. Eu me recuso a fazer isso! De muitas maneiras, sou igual ao que era aos 20 anos.

E o novo disco, que você vem anunciando faz tempo, com a nova geração do jazz e do rap, a quantas anda?

Estamos perto de algum tipo de lançamento, com certeza até o começo do ano que vem. É um disco que cobre diferentes gêneros, com músicos de várias culturas e direções. Snoop Dogg está lá. Tem hip-hop, pop, r&b, músicos africanos, influências do Oriente Médio e do Leste da Índia… Esse foi o disco que eu levei mais tempo para fazer até hoje, mas agora temos material para pelo menos três álbuns, que serão lançados separadamente.

Após várias passagens pelo Brasil, o que planeja para as novas apresentações aqui?

Nesta turnê, estarei com músicos diferentes, não mais aqueles com os quais eu vinha excursionando. Desta vez, venho com um baterista maravilhoso, chamado Justin Brown ( que esteve no Brasil nas bandas do baixista Thundercat e do trompetista Ambrose Akinmusire ), e o Grégoire Maret, que é o mais impressionante gaitista que já ouvi na vida. E trago também o Michael Mayo, um talento raro, que sabe usar efeitos eletrônicos, mas cuja voz é um instrumento, assim como um saxofone ou trompete. Músicas antigas, como “Chameleon” e “Actual proof” virão com um novo som. E também tocaremos algumas faixas do próximo disco.

O que acha que existe nesses seus temas dos anos 1970, como “Chameleon” e “Actual proof”, que ainda encantam tanta gente?

Acho que é essa combinação das linhas de baixo com as melodias, que estimula os improvisos que se seguem.

Você sempre seguiu as novidades tecnológicas da música. Qual é o painel que vislumbra hoje ?

Há muito mais oportunidades de se ouvir música do que havia. E a tecnologia está possibilitando que mais pessoas façam música. Antigamente, você tinha que estudar em escolas. Agora, com novos dispositivos, novos teclados, as pessoas estão fazendo música sozinhas. Nem sempre o resultado é excelente, mas ainda assim é um estímulo à criatividade.

Você ainda acha importante que as pessoas aprendam a tocar instrumentos?

Sim, porque elas podem aprender de novas formas, em novos instrumentos. É como acontece com os automóveis: aprendi a dirigir com transmissão manual, hoje os carros são automáticos. As pessoas não precisam aprender tudo o que eu aprendi. Mas fico feliz de ter aprendido, porque isso me dá a vantagem de entender como um carro funciona.

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