No marco dos 50 anos do Hip-hop, este movimento que vem transformando as perspectivas da juventude negra, pobre e periférica em todo o mundo, o Conselho Universitário da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) aprovou o título de Doutores Honoris Causa para os membros dos Racionais MCs, Mano Brown, KL Jay, Edi Rock e Ice Blue. O pedido foi realizado pela linha de pesquisa Hip-hop em Trânsito, coordenada pelas professoras Jaqueline Lima Santos e Daniela Vieira, que integra o Centro de Estudos e Migrações Internacionais, dirigido pelo professor Omar Ribeiro Thomaz. Essa também foi uma reivindicação das e dos estudantes da disciplina Tópicos Especiais em Antropologia IV: Racionais MC’s no Pensamento Social Brasileiro, lecionada no segundo semestre de 2022 e que teve a presença dos membros do grupo em uma de suas aulas. Para dar encaminhamento à solicitação, foi formada uma comissão composta pelos professores e pesquisadores Sueli Carneiro, Mário Medeiros, Omar Ribeiro Thomaz e Ricardo Teperman, os quais encaminharam parecer favorável que foi aprovado nesta data, 28 de novembro de 2023.
O grupo de rap que completa 35 anos produziu uma variedade de obras que registra a dinâmica social e que oferece um amplo repertório para compreender a formação das periferias, as desigualdades, as relações raciais, a música negra, as lutas antirracistas, as políticas de segurança pública, a masculinidade e as relações de gênero, as alternativas de sobrevivência e as expectativas da população mais pobre do país. Devido a importância de suas obras, os trabalhos do grupo têm ganhado espaço na formação escolar e não escolar, bem como nas produções acadêmicas que buscam registrar aspectos históricos, sociais, culturais, identitários e políticos da sociedade.
A produção artística do Racionais ajuda a compreender diferentes facetas da história e do cotidiano brasileiro. As letras, como narrativas do cotidiano, colocam em evidência a realidade enfrentada pela população e como os diferentes grupos – considerando raça, gênero e classe – se relacionam e produzem desigualdades e diferenças. A própria história do grupo, como sua formação, a recepção do seu trabalho e as formas de censura e perseguições enfrentadas, revela como se dá a experiência de jovens negros no Brasil. A escolha e composição dos instrumentais de cada uma das músicas traz a tona as referências musicais do universo negro e periférico dos centros urbanos translocais e leva seus interlocutores a conhecer produções de diferentes tempos da história da black music e da música popular brasileira.
Neste sentido, um olhar sobre a obra do grupo possibilita a construção de um amplo repertório não apenas sobre o Brasil contemporâneo mas, igualmente, sobre experiências das culturas afrodiaspóricas transnacionais. Além disso, responde a uma demanda cada vez mais evidente de estudo e inserção destes trabalhos nos currículos e percursos formativos sobre o país.
A transformação das universidades brasileiras em ambientes mais democráticos e plurais está dada, não tem volta. Nosso viva às diversas formas de produção de conhecimento.