Domésticos têm a maior queda de renda entre as profissões no Brasil

Rendimento real da categoria recuou 2,4% de setembro a novembro de 2015, segundo último balanço do IBGE.

Por DANIEL MENDES, no Blastingnews

A renda do trabalhador doméstico no Brasil sofreu a maior queda registrada nos últimos quatro anos (desde 2012), segundo informações divulgadas na última sexta-feira, dia 19 de fevereiro, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas).

Segundo especialistas, a crise econômica que assola o país é a principal responsável por esta queda, devido ter apertado o orçamento da maior parte das famílias brasileiras, o que, consequentemente, diminuiu também a oferta de trabalhos domésticos em todo o território nacional, sobretudo, a partir de meados de 2015, período no qual a crise começou a imperar de forma mais evidente, e contundente, por aqui.

Ainda de acordo com o IBGE, a queda do rendimento do trabalhador doméstico brasileiro representa a marca de aproximadamente 2,5%, em um período avaliado correspondente aos meses de setembro a novembro do ano passado, e em comparação com a mesma época em 2014. O salário médio recebido por este profissional em 2015 foi de R$ 750, 19 reais a menos do que o recebido no ano anterior.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), 95% dos trabalhadores domésticos no Brasil são mulheres. Em 2015, muitas delas voltaram ou passaram a trabalhar em lares por conta da crise ocorrida em setores como serviços e comércio. No entanto, quem conseguiu emprego como doméstica no ano passado não teve muito o quê comemorar, devido à queda nos ganhos para este tipo de profissional no país, contração verificada pelo IBGE.

Doméstica comemora avanços, mas lamenta pela crise

“Uma faca de dois gumes”, foi assim que a doméstica Ângela Maria do Rosário, 39 anos, definiu a atual situação de sua classe trabalhadora no Brasil. Com 22 anos de profissão, ela reconhece melhorias ocorridas nas condições de trabalho, mas diz que nunca viveu uma crise como esta.

“Teve avanço sim e isso tem que ser reconhecido. Quando comecei a trabalhar como doméstica tinha 17 anos e não me passava pela cabeça que um dia eu iria ter carteira assinada. Férias remuneradas era coisa de outro mundo. Se eu falasse em férias com a minha patroa era capaz deu ser demitida com ‘uma mão na frente e outra atrás’. Hoje não. Sei que tenho direitos e posso entrar na justiça sempre que me sentir prejudicada”, comemora Ângela.

“Mas agora, justamente quando minha classe conquista direitos na carteira, vem essa crise e a coisa ficou feia. Eu graças a Deus não perdi meu emprego, mas meu salário caiu 30 reais. Nunca passei por isso. Vi colegas perderem seus trabalhos e algumas estão há mais de cinco meses tentando conseguir outro e nada. ‘É uma faca de dois gumes’ como dizem por aí, né? Houve melhorias, mas não tem mais trabalho pra todo mundo. Quem tem o seu que segure, mesmo ganhando menos”, lamenta a doméstica.

Salário menor, carga também menor

De acordo com o economista Adriano Fonseca, a crise está fazendo com que patrões e empregados domésticos renegociem a carga horária de trabalho por conta da necessidade de redução salarial nestes tempos de recessão.

“É uma situação legal, e, inclusive, sugerida pelos órgãos fiscalizadores do trabalho doméstico no país. E reflete um avanço também, pois, em outros tempos, o patrão reduzia o salário por conta do aperto, mas não diminuía a carga horária do empregado. Agora os empregadores estão reduzindo sim os salários, porém, estão diminuindo a carga horária do empregado, até para que ele possa ter um tempo de sobra, para, quem sabe, conseguir outro serviço, para complementar a renda. Esta situação está acontecendo mais veementemente de setembro para cá”, afirma Adriano.

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