Entre os guerreiros Maasai do Quênia, quem pula mais alto ganha atenção das jovens

Recebi uma boa notícia hoje: minha exposição de 35 fotografias intitulada “Viajologia”, que está acontecendo no Metrô de São Paulo, será prorrogada e fará uma quarta escala em fevereiro. Desta vez, a estação Paraíso, confluência entre as linhas 1 e 2, receberá as imagens que oferecem uma volta ao mundo por 17 países e quatro continentes.

HAROLDO CASTRO (TEXTO E FOTOS) DO QUÊNIA, do Época

Revendo o material, gostaria de escrever hoje sobre as duas fotos do Quênia apresentadas na exposição. A primeira imagem é a do “adumu”, dança dos jovens guerreiros Maasai, uma espécie de competição que destaca aqueles que pulam mais alto e de forma mais reta.

Interessados em impressionar as jovens donzelas que assistem ao espetáculo, os guerreiros Maasai consideram as danças como as melhores ocasiões para flertar com as meninas que, um dia, serão suas futuras esposas. Eles demonstram uma vitalidade singular e dançam durante horas, balançando para trás e para frente, a cabeça e o tronco. E pulando. Pulando muito alto.

Quando vi os primeiros pulos, até pensei que os rapazes tinham molas nos pés, de tão alto que subiam! Mas o segredo está no impulso dado pelos joelhos e em manter o corpo mais reto possível. A altura deles – muitos medem 1,90 m ou mais – e o corpo sarado e esguio também ajudam a realização do pulo.
Como éramos os dois únicos ocidentais, em várias ocasiões fomos convidados a integrar a dança. Como parecia fácil balançar o corpo para trás e para frente, aceitei o convite. Mas quando tentei, apenas consegui tirar risadas dos guerreiros. Meus movimentos eram emperrados, como um bambu duro. Já os jovens faziam seus balanços com graça, quase que serpenteando. Saí da roda e preferi apenas fotografar.

Outro momento marcante da cerimônia é quando os jovens cantam e dançam, todos segurando uma lança pontiaguda (Foto: © Haroldo Castro/Época )
Outro momento marcante da cerimônia é quando os jovens cantam e dançam, todos segurando uma lança pontiaguda (Foto: © Haroldo Castro/Época )

Durante as pausas entre as danças notei uma cena muito especial. Dois guerreiros estavam de mãos dadas e seus braços exibiam uma coleção de pulseiras coloridas feitas com minúsculas contas. Uma terceira mão de um jovem veio se juntar às duas. Durante alguns segundos, favorecido por um raio de sol que iluminava os braços e pelo contraste da sombra criada pelas árvores, cliquei as mãos juntas, símbolo de amizade. Quando os jovens ouviram os disparos da câmera apontando para suas mãos, eles desfizeram lentamente o laço de cumplicidade. Mal sabia que eu que a cena seria um dos símbolos de minha viagem ao continente (e a segunda foto do Quênia na exposição), servindo como capa de meu livro “Luzes da África”.

Um aperto de mãos entre três jovens guerreiros Maasai acabou sendo uma das imagens icônicas de minha viagem à África (Foto: © Haroldo Castro/Época)
Um aperto de mãos entre três jovens guerreiros Maasai acabou sendo uma das imagens icônicas de minha viagem à África (Foto: © Haroldo Castro/Época)

A sociedade Maasai está dividida em “grupos de idade”. Em uma comunidade pequena, não existe uma pirâmide populacional contínua, pois ciclos de 15 anos marcam casamentos e futuros filhos. A cada 15 anos, uma nova geração de jovens é iniciada. Todos adolescentes na faixa entre 13 e 18 anos são circuncidados e passam a ser guerreiros juniores, chamados de murran barnot.

Teoricamente, os jovens precisam esperar um ciclo de 15 anos para se tornarem adultos e terem permissão de casar. Aos 30 anos, passam a ser guerreiros seniores, murran botor.  Após mais um ciclo de 15 anos, estes são considerados como anciões, ngesher.

Um guerreiro júnior “murran barnot” com seu belo penteado (Foto: Haroldo Castro/Época)
Um guerreiro júnior “murran barnot” com seu belo penteado (Foto: Haroldo Castro/Época)

A riqueza de um Maasai é medida pelo número de cabeças de gado que cada família possui – uma riqueza tangível – e não por uma conta bancária. Todos cuidam de seus animais com muito carinho. “Nossas vacas são o que temos de mais precioso”, diz Isaiah Torongos, um “murran barnot”. “É a principal fonte de alimento. Elas nos dão leite, sangue e carne. Por isso tratamos muito bem do gado.”

dsc_1421-web62
Isaiah Torongos com o gado de sua família (Foto: © Haroldo Castro/Época)

 

+ sobre o tema

Fotos históricas de Malcom X com a família um dia antes de ser assassinado

Foram poucos os fotógrafos que tiveram a sorte de...

Máscaras masculinas de Ọrọ Ęfę – Gelede

As máscaras masculinas e seus portadores, que cantam, são...

Suzana e Suzane Massena – ‘Nem o pai sabe quem é quem’, dizem modelos gêmeas

As gêmeas Suzana e Suzane Massena, de 17 anos,...

Com ‘Oitentáculos’, Nei Lopes se consagra o griô da poesia brasileira

"Oitentáculos" é o terceiro livro de poesias de Nei Lopes....

para lembrar

Globo desiste de Ó Paí, Ó e atores ficam decepcionados

O elenco baiano da minissérie Ó Paí, Ó está...

Montevidéu Já Foi uma Cidade Negra

Por: Mário Maestri* Em 21 e 22 de...
spot_imgspot_img

Podcast brasileiro apresenta rap da capital da Guiné Equatorial, local que enfrenta 45 anos de ditadura

Imagina fazer rap de crítica social em uma ditadura, em que o mesmo presidente governa há 45 anos? Esse mesmo presidente censura e repreende...

Peres Jepchirchir quebra recorde mundial de maratona

A queniana Peres Jepchirchir quebrou, neste domingo, o recorde mundial feminino da maratona ao vencer a prova em Londres com o tempo de 2h16m16s....

Clara Moneke: ‘Enquanto mulher negra, a gente está o tempo todo querendo se provar’

Há um ano, Clara Moneke ainda estava se acostumando a ser reconhecida nas ruas, após sua estreia em novelas como a espevitada Kate de "Vai na...
-+=