O que semelhante indignação parece também sugerir, pelo grau de ressentimento presente em algumas falas, é que o feitiço virou contra o feiticeiro, no momento em que um outsider ascende ao poder e se apropria e expande os métodos consagrados historicamente de permanência no poder.
Disse o deputado Alberto Goldmann, em recente artigo sobre a possível reeleição do presidente Lula, que “a sua reeleição seria a confirmação de que mais vale um Bolsa Família do que a consciência das mudanças que a sociedade necessita”. Kennedy Alencar, por sua vez afirma que, “no Brasil, os mais pobres sempre elegeram os governantes, pois são a maioria da população. Nesta eleição, porém, tendem a fazê-lo descolados dos mais ricos como nunca antes”.
A resposta daqueles que têm a obrigação de eleger sem ter o direito de participar das grandes decisões acerca do país, missão atribuída aos doutos, parece ser: mais vale um Bolsa Família, um Prouni etc. na mão do que “a consciência das mudanças que a sociedade necessita. Isso, em geral, passa ao largo de suas necessidades, ou seja, como confiar no que quer que a oposição prometa agora se, quando governo, ela não o fez?
Isso não significa um cheque em branco ao presidente Lula nem absolvição dos escândalos de seu governo. É pura consciência de um ambiente político deteriorado, em que as pregações éticas atuais e as justificativas do injustificável não conseguem apagar o que todos fizeram no verão passado. E que o único parâmetro possível de escolha são os benefícios e interesses que cada um pode assegurar, e não mais, como de regra, aos extratos superiores da sociedade. É esse o cacife do atual presidente, posto que a percepção em relação à oposição é a de que sempre foi possível fazer mais do que o que foi feito e que isso não ocorreu por falta de sensibilidade e compromisso social para com as necessidades dos segmentos despossuídos da sociedade. A confirmarem-se as tendências apontadas pelas pesquisas, resta à oposição doravante mostrar concretamente que pode oferecer mais porque ampliou-se significativamente o nível de expectativa e exigência; felizmente o voto da plebe rude está ficando cada vez mais caro. Eta povinho danado!