Exclusão? Pra onde?

No Brasil, as 12 cidades-sede dos megaeventos esportivos de 2014 e 2016, têm sido alvos de uma verdadeira ofensiva estatal cujo objetivo é, ao que tudo indica, impor a rigorosamente todos os habitantes um ideal de metrópole que concorre para intensificar ainda mais a marginalização dos diferentes. De acordo com o Manifesto da Articulação Popular Nacional pela garantia dos Direitos Humanos no contexto dos Megaeventos, entre os grupos mais negativamente impactados pela mentalidade excludente dos atuais gestores públicos, nas grandes empreitadas urbanas pré-Copa e Olimpíadas, são favelados, moradores de assentamentos informais, pessoas em situação de rua, trabalhadores/as sexuais, crianças e adolescentes, comunidades indígenas e afro-descendentes, vendedores/as ambulantes e outros trabalhadores/as informais.

Nas áreas urbanas as remoções e despejos forçados são as encarnações mais perversas dos projetos frutos de coalizões políticas que visam, em primeira e última instâncias, o lucro e as vantagens pessoais em franco detrimento do bem comum. Pessoas que deveriam receber atenção especial das autoridades e do Estado, justamente, por não terem acesso ao mercado imobiliário formal – que agora se torna ainda mais restrito com o verdadeiro boom de especulação – são expulsas para o mais longe possível, contrariando inclusive a lei que determina que todos os despejados e removidos devem ser realocados em local próximo ao de origem.

As estratégias de radicalização da exclusão dos pobres, favelados, camelôs e pessoas em situação de rua, mesmo hoje, contam com um componente quadricentenário estruturante da sociedade brasileira: o racismo. O racismo que conduz os projetos de cidade hoje implantados pelos setores dirigentes, nada tem de residual. Ele é o mesmo que abateu-se historicamente sobre os quilombolas, que por sua vez, tiveram de resistir às consecutivas tentativas de expropriação de suas terras, afirmando suas identidades, desenterrando suas memórias, alimentando o seu orgulho.

A perseguição aos ‘diferentes’ – àqueles classificados negativamente – empreendida pela administração pública, escamoteada, desta vez, por discursos sobre as benesses e legados positivos que, em tese, os jogos trarão, descortina em mais uma oportunidade o anseio histórico irrealizável – por vezes recalcado, por outras explícito – nutrido por determinados grupos sociais, de promover uma limpeza étnica.

“Excluir?” Mas para onde? Qual é o exterior da sociedade? Os jogos, bem como os territórios, a cidade, a favela, têm de ser uma oportunidade para refletir em como impactar positivamente todo o conjunto da população e não apenas uma pequeníssima parcela.

 

Fonte: Observatório de Favelas

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