Feminismo em sala de aula

Meu trabalho era pra ser algo tão específico, mas se torna algo tão múltiplo! Eu sou professora, psicologa, amiga e, as vezes, até mãe eu viro! Do meu trabalho eu tiro inúmeros casos pra falar em posts daqui do Blogueiras, pena me faltar tempo de redigir mais textos, seria ótimo!

Por Sara Joker, do  Blogueiras Feministas

Falar sobre respeito em qualquer relação “homem-mulher” é meu maior desafio! Tenho alunos adolescentes, noto que os assuntos maiores são sempre a relação heterossexual amorosa e/ou sexual. Um@s ficam olhando e paquerando pessoas do sexo oposto, outr@s querem matar curiosidades logo. Eu sou nova, tenho uma cabeça muito moderna e não vejo mal em beijar, ficar, namorar ou transar! Sei que muit@s pais e mães me odiariam, mas meus conselhos sempre são: Aproveite sua juventude com responsabilidade! Não sei ser hipócrita a ponto de falar outra coisa. Mas, o que me preocupa é o respeito que certos meninos têm e outros não têm.

Classroom Antics de Aiden Dark no DeviantArt

Sim, respeito! Uma aluna minha foi de short curto, ouvi de outras alunas que ela não se dava o respeito, mas questionei a elas se a roupa dela é motivo pra que homens ou garotos tentem abusar dela. Penso sempre nisso, as meninas ficam mais moderninhas, ficam com vários garotos, mas continuam vendo as vestimentas de outras meninas como motivo de um abuso ou uma cantada desnecessária. Não é porque uma garota dança funk, usa shortinho ou decote que ela fez por onde ser passada a mão, homens precisam aprender desde novos a respeitar mulheres, sua autonomia e suas vontades.

A mesma menina criticada por outras garotas ouviu de um colega a seguinte frase: “Se o Fulano te pressionasse você daria pra ele pois você é fácil e tem mente fraca!” Como isso me incomodou, ainda mais vindo de um menino que me encara e que fica tentando se aproximar das meninas de forma desrespeitosa. Cortei a dele outro dia, ele precisa entender que não vai conseguir nada além de inimizades se ficar intimidando mulheres e meninas. Falar besteira não faz dele interessante pra mulher alguma. Ele só tem 14 anos, tá na idade de entender isso, é um ótimo rapaz mas reproduz o que vê por aí na rua! Faz parte do meu trabalho mostrar a ele o que é respeito, o que é ver uma mulher como uma igual, não como um pedaço de carne.

Ensinar coisas desse tipo é o maior dos desafios, afinal, é a educadora contra o mundo todo a volta dessas crianças. Um mundo machista que separa mulheres em dois grupos, um mundo homofóbico que acredita que ser homossexual é um xingamento. Sou eu contra o nosso mundo real, finalmente entendi que o mundo é duro com quem luta, com quem milita ao vivo, em salas de aula. Ensinar uma criança a ser diferente de tudo que ela vê por aí é tarefa árdua. Sou eu e meia dúzia de gat@s pingad@s de exemplo e toda uma família, todo um grupo de amig@s e vári@s vizinh@s mostrando que o normal é ser como el@s. Tenho que dar a segunda opção, explicar porque essa segunda opção é melhor que a primeira (a mais comum!) e esperar que a criança decida por si mesma. Educar é acreditar que você pode mudar quase um karma de uma criança, é dizer que aquele menino ou menina não precisa ter o mesmo destino que seu pai ou mãe, e isso diz respeito até mesmo ao machismo!

Quando educo um menino a não desrespeitar uma mulher dou a ele a opção de ser um homem melhor para sua futura companheira e para todas as mulheres com quem ele conviver, flertar, namorar, ficar e/ou transar. E quando ensino uma menina a não aceitar nenhum tipo de abuso e violência de homem algum dou a ela a opção de nunca passar por uma violência de cabeça baixa, dou a ela a força que ela precisa pra ter coragem de denunciar qualquer abuso que sofra, se sofrer, num futuro. Nessas horas, preciso jogar meu ódio pra longe e ver muitos dos meus alunos que agem de forma machista com mulheres como crianças que podem ainda rever seus conceitos. Pra mim, ser educadora e militante é dar sempre a opção da mudança a qualquer pessoa! Eu já fui muito descrente em relação a humanidade, hoje em dia eu acredito nela, acredito em seu poder de mudança.

 


Sara Joker

Artista visual, quadrinista, atriz e cantora. Formada em licenciatura e bacharelado em Artes Visuais, pós graduada em Psicanálise. Nerd de humanas, adora RPG, quadrinhos, filmes cabeça, rock e livros. Se interessa por questões relacionadas as lutas pelos direitos das mulheres, negros e LGBTTs.

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