A habilidade de lidar e conviver com extremo contraste cultural, não é para qualquer um. É para quem tem fome de viver e quer e precisa habitar em outros mundos, países e também cumprir uma função social onde retira o seu sustento.
Enviado por Francielle Costacurta via Guest Post para o Portal Geledés
O que me surpreende quando vejo epidermes diferentes, sotaques que percebo que são de longe. É o que podem mostrar acrescentar em visões de mundo, formas de expor suas contações de historias e os métodos de trabalho como um todo. Que sempre há o que mostrar de bom e os aspectos ruins todos temos em algum meio de nossas vidas.
Eu escrevi essas duas poesias projetando a minha experiência com o que vemos por aí. Pessoas que não são apenas imigrantes refugiados. São cabeças com historias complexas, intrigantes, banais, importantes que podem servir de alguma utilidade para quem se relaciona como gente digna e não racista.
O volume de pessoas que incorpora as cidades não só aumenta em volume aumenta em qualidade, ser bilíngue não é apenas exclusividade de alguns privilegiados. Ter uma segunda e terceira língua torna se sinônimo de utilidade publica. E notar como os outros povos de nação africana aprendem um idioma de seis meses a um ano. Em comparação aos nossos cursos que chegam ao período de cinco a dez anos. E reafirmando os lugares comuns de quem estuda raça e etnia é preciso dar visibilidade em todos os espaços públicos e privados em se tratando de suas demandas. Não basta apenas o termo distante chamado respeito é preciso para o bem viver e a dignidade dos povos o uso e o recurso do verbo acostume-se conosco. Além do orgulho, quem usa esse adjetivo na pratica, possui amor próprio e é mais propenso a lutar por seus próprios direitos. Possuindo a capacidade de se identificar com outros povos, mas sem perder o significado e o significante das referencias que o tornam um ser importante entre o núcleo de amigos, famílias e suas origens não esquecendo dos símbolos históricos.
Na primeira poesia chamada Amigas Reencarnadas, retomo que em algum momento o nosso DNA já percorreu grandes distancias territoriais e a nossa origem é a mesma como a Angola, Congo, Nigeria… enfim a Mãe Africa. Na segunda poesia Africans Welcome, encontro com mensagens ideais de boas vindas e pre – preparo social, de como esse continente da América Latina esta longe de ser o país ideal. E o quão necessário é a fortaleza pessoal e a resistência contínua feita no dia após dia. Essa é a realidade a que me disponho a relatar, brasileiras não são todas iguais. Algumas fazem política pela poética. Ensaios que detalham considerações pessoais e criticas em solidariedade a esse mundo insensato e bonito que nos encontramos. E essas duas poesias se encontram no livro Poesia em Primeira Pessoa, autora Francielle Costacurta, lançado pela Editora Ceos, 2015.
Amigas reencarnadas
Hoje somos companheiras em razão da nossa herança atávica. Eu negra, você branca. Seus pais negros ancestrais no navio negreiro. Estávamos lá nós duas naquele lugar escuro. Nesses dias, carregamos em nossas vidas, dores de outros tempos. Raiva na cabeça e solidariedade no coração. Vemos uma na outra. Acolhemos com as mãos o suor da febre. Um dia eu cuido de você e no outro tu cuida de mim. Na perfeita lei da reciprocidade
Amigas, irmãs, rixas iguais, trajetórias semelhantes.
Contemplação das pessoas que assim como nós, sem falsa moral, lutam em meios às correntes ou mesmo no pódio para sobreviver. Enfim reencontradas no gueto.
Africans Welcome
Vieram os gringos
Sobreviveram aqui
As histórias
As cores
E dissabores
Eu como eles
Haitianos
Refugiados
Intercambistas
Cheguei nesta vida
Família adotada
Estranhamento
Continente amarrento
Meu corpo foi o baobá
Da resistência!
Da presença aqui
Refeita
Contrafeita
Racista
Contribuo aqui
Estimo meus irmãos
De cor
Sangue
E continente
Francielle Costacurta