Jair de Souza: Por que ficamos à mercê da rede Globo?

Por que ficarmos à mercê da rede Globo?

por Jair de Souza, especial para o Viomundo

Estamos na reta final de uma campanha eleitoral das mais disputadas há muitas décadas. E, mais uma vez, a gente se vê naquele estado de incerteza, sem saber o que as corporações midiáticas (em especial a rede Globo) vão aprontar nestes instantes finais para influir no processo e fazer vingar seus (da mídia) interesses.

Não bastasse o controle quase que absoluto que essas corporações exercem sobre quais informações o país vai receber, quais informações serão mantidas fora de seu alcance, e como será transmitido aquilo que as corporações acharem que deve ser divulgado, vamos ficar outra vez na dependência do último debate a ser promovido pela rede Globo, depois de que todas as outras instâncias de expressão das campanhas já estiverem fechadas.

É por isso que a gente constata que o medo está presente em muitos de nós, mesmo sabendo que nosso/a candidato/a se apresentou melhor durante todo o trajeto anterior.

Ficamos com aquela perguntinha atormentadora: o que será que poderá vir em forma de bala de prata num momento em que já não for mais possível reagir a seus efeitos?

Isto nunca poderá servir como exemplo da vitalidade de uma democracia, muito pelo contrário. Aí temos a prova de que todo nosso futuro fica a mercê de um pequeno grupo de privilegiados, o qual parece estar acima dos comuns dos mortais.

Não concordo com quem aceita passivamente este estado de coisas.

Compartilho sim a opinião daqueles que dizem que a liberdade de expressão é um direito humano inalienável que deve ser defendido com unhas e dentes.

Mas, esclareço, a liberdade de expressão deve ser para toda a sociedade, não apenas para aqueles que detêm poder econômico suficiente para possuir e comandar uma grande estrutura midiática que impede a participação ativa no fluxo de informações da maioria da população.

Por isso, todo candidato do campo popular deveria defender como prioritária uma profunda reforma da atual estrutura midiática prevalecente no país, lutando pela efetivação de uma lei de meios de comunicação que permita que a democracia, por fim, chegue até aí.

Sou dos que não dão grande valor aos debates promovidos pelas corporações midiáticas entre os candidatos considerados mais fortes para uma determinada eleição.

Da forma como tais debates são realizados, não há como os espectadores ficarem mais bem informados sobre a capacidade ou incapacidade de alguém para gerir os destinos do governo.

Nos poucos minutos que um candidato tem para expressar sua proposta, ou refutar a de seu concorrente, o único que lhe permite sair-se melhor que os outros é sua facilidade de expressão oral e sua capacidade de exercer sua malandragem.

E, todos sabemos, os malandros, quase sempre, são bons de bico.

Sei que há gente de bem (não gente de bens) que diverge de mim neste aspecto e crê que esses debates são contribuições positivas à democracia.

Ok, tudo bem!

Mas, não dá para aceitar que toda nossa sorte fique na dependência do que a rede Globo vai fazer com o último debate da campanha, aquele que só acontece quando já não há mais tempo para reagir a nada porque, depois do tal debate, já estará em vigor a proibição de fazer campanha através dos meios de comunicação rádio-televisivos.

Queria apelar a todos os candidatos do campo popular para que, nas eleições vindouras, se recusem a aceitar entregar à rede Globo (ou a outra qualquer) este monstruoso poder de manter em suspense toda uma Nação, com a possibilidade de tergiversar as coisas de maneira a fazer prevalecer seus interesses (os das corporações midiáticas e dos grupos que elas representam) por sobre os do conjunto da Nação.

Que o último debate televisivo não se dê nunca com menos de uma semana antes do fim do período legal de campanha.

Não haverá democracia de verdade sem a democratização do acesso aos meios de comunicação.

 

 

Fonte: Viomundo 

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