Jamie Foxx: recordação de racismo na infância, esperança no futuro

Protagonista do novo filme de Tarantino, como o escravo Django, o próprio Jamie Foxx se recorda das histórias de racismo que viveu em sua infância, no Texas. Mas, em entrevista em Cancún, o ator, de 45 anos, disse acreditar que alguma coisa está mudando na sociedade americana e defendeu o governo de Barack Obama.

Um dos principais temas de “Django livre” é o racismo. E você nasceu no Sul dos EUA, no Texas, onde o preconceito sempre foi muito forte. Fazer parte de uma história assim te tocou de alguma forma?

Quando você volta a uma plantação onde seus ancestrais foram mortos, isso mexe um pouco contigo. O tráfico de escravos durou 300 anos. Eles te colocavam num barco, viajavam contigo por três meses da África para os EUA, muitos ficavam pelo caminho, eram jogados para os tubarões. Depois, milhões morreram nos EUA pelas condições com que eram tratados. É um tema muito sério que, acho, ainda é pouco abordado. Eu mesmo, quando garoto, já passei por situações de preconceito.

Você se recorda de alguma situação específica?

Quando eu tinha uns 8 anos, meu avô me deu uma pequena lata e me pediu para buscar 35 centavos de gasolina para ele num posto. Eu disse “tudo bem”. Então atravessei a rua até o posto, enchi a lata, mas aí vi que eu só tinha comigo 20 centavos. Tive que voltar para buscar os outros 15 centavos, mas voltei com a lata cheia comigo. Aí um cara branco, mais velho, gritou comigo, me chamando de “nigger” (um termo pejorativo da língua inglesa para se referir a afrodescendentes, algo como “crioulo” em português). Eu só tinha 8 anos. Mas meu avô era um sujeito esperto, conhecido na cidade, e ele foi falar com o cara. Eram coisas que aconteciam o tempo todo, faziam parte da minha vida.

Mas você acha que alguma coisa mudou? A presidência de Barack Obama, por exemplo, ajuda nesta mudança?

Tudo na América sempre foi debatido em torno de racismo. Mas acho que a gente começou a se revoltar contra isso. Temos um presidente afro-americano hoje. Acredito numa mudança. Só por termos o Obama como presidente é uma prova de que as coisas já são diferentes. Nos últimos tempos, Denzel (Washington), Halle (Berry), eu, Morgan Freeman, Jennifer Hudson… Foram atores negros que ganharam um Oscar. O problema é que ainda temos algumas pessoas no país que só estão preocupadas com seu próprio grupo. É aquele cara que quer um plano de saúde público, mas só quer para si, não quer para o outro. O problema não é o governo. São as pessoas.

No caso de “Django livre”, você acha que o filme seria diferente se o diretor fosse negro?

Eu te garanto que Quentin Tarantino tem muito sangue negro correndo em suas veias. Ele sabe bem o que fazer para mostrar os problemas que quer mostrar. Ele fez “Bastardos inglórios” sem ser alemão ou judeu. Ele é o cara certo para esse tipo de coisa.

 

 

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