Joacine Katar Moreira: “Eu gaguejo. Isso não me impede de rigorosamente nada”

Joacine Katar Moreira, candidata pelo Livre nas próximas legislativas, esteve num colégio interno, tomou conta de oito irmãos, andou a apanhar tomate e trabalhou em supermercados enquanto frequentava a universidade. E entrou na política para mostrar que há espaço para todos.

Por Maria João Caetano, do DN 

Joacine Katar Moreira.© Orlando Almeida/Global Imagens

“Sou mulher, sou negra, venho de uma família com dificuldades económicas e, como se não bastasse, ainda gaguejo impecavelmente.” Joacine Katar Moreira termina esta frase com uma enorme gargalhada. Nasceu na Guiné-Bissau há 37 anos e desde os 8 que mora em Portugal. Licenciada em História Moderna e Contemporânea, com um mestrado em Estudos do Desenvolvimento e doutorada em Estudos Africanos, Joacine foi uma das fundadoras do INMUNE – Instituto da Mulher Negra em Portugal e é a cabeça-de-lista do Livre às próximas eleições legislativas. Está feliz com os ventos de mudança que sente na sociedade portuguesa mas não entra em euforias: “Estes últimos anos mostraram-me que vivemos num país onde ainda há muitas questões por resolver e é óbvio que há uma elite que não está disposta a que haja alterações que ponham em causa os seus privilégios.”

Porque é que veio da Guiné tão nova?
Era uma época de imensa instabilidade política e social na Guiné. No início dos anos 1990 houve emigração maciça dos guineenses. Estamos a falar de um país em que, entre golpes e destituições, desde a independência até hoje, nunca um executivo concluiu quatro anos de mandato. Isto reflete-se necessariamente em todas as áreas, nomeadamente na educação. E foi por isso que a minha avó decidiu mandar-me para Portugal, para um colégio interno.

A sua avó?
Foi ela que me educou. Quando eu nasci, os meus pais tinham 18/19 anos. A minha mãe estudava mas o meu pai já dava aulas, porque o Estado guineense exigia que os alunos que acabassem um determinado nível de ensino dessem aulas aos mais novos. A minha avó era uma mulher absolutamente feminista, embora ela não faça ideia disso. Era uma mulher independente, uma enfermeira respeitada, divorciada, que, mesmo sem ter altos recursos financeiros, educou os filhos dela, os filhos dos irmãos, os filhos dos filhos. Era muito organizada, obcecada com a higiene e muito amorosa. A minha avó nunca levantou a mão para dar uma palmada a ninguém, mas o olhar dela – nem era de austeridade, era um olhar de desilusão – era suficiente para nos dizer tudo.

Então a sua avó mandou-a para Portugal?
A minha avó teve a ideia de me pôr num colégio interno de que tinha muito boas referências. Mal cheguei da Guiné, fui do aeroporto para casa dos meus tios e no dia seguinte fui levada para um colégio interno. Com 8 anos. Era um colégio de irmãs espanholas, Dominicanas da Anunciata, que era uma espécie de IPSS para onde iam as meninas que eram retiradas às famílias pela Segurança Social. A minha avó não sabia disto. Só ao fim de um tempo é que eu comecei a entender que o meu espaço não era aquele – a maior parte eram meninas que vinham de famílias com dificuldades económicas ou por causa de maus-tratos, havia o caso de uma menina que tinha sido violada. Não tinham nada a ver comigo. Eu tinha família, nessa altura o meu pai vivia em Alverca, numa casa ampla com três quartos, mas como era uma época em que vinham muitos imigrantes, cada vez que eu ia lá a casa, passar o Natal, a Páscoa ou as férias de verão, havia sempre imensa gente, ele recebia familiares e amigos, houve alturas em que tínhamos pessoas a dormir no hall de entrada e na cozinha. Portanto, eu estava no colégio mas eu tinha uma casa.

Integrou-se bem na vida do colégio?
Foi uma época de alegria enorme e ao mesmo tempo de uma grande inocência. Era um edifício enorme, tinha uma sala gigante, cheia de brinquedos, os quartos eram grandes e as camas estavam sempre muito esticadinhas. As irmãs eram ótimas, não eram daquelas irmãs muito austeras e ríspidas. Punham as meninas mais velhas a tomar conta das mais novas. Foi uma época essencial para a minha formação, dos 8 aos quase 15 anos. Se houve algo que me marcou, não foi eu ir para um espaço estranho, foi eu ter sido posta novamente na 2.ª classe. Foi uma infelicidade enorme. Eu amava ir à escola e era muito elogiada por ser uma menina inteligente. E cheguei aqui e sem qualquer avaliação decidiram pôr-me um ano atrás, porque todas as meninas que vinham de África eram colocadas um ou mesmo dois anos atrás. Este foi o meu único trauma de infância. Foi uma humilhação. A partir daí, decidi que não podia falhar nunca mais, nem podia chumbar mais nenhum ano. Isso fez que me esforçasse ainda mais. Acho que desde então funciono muito desta maneira: o que não era suposto acontecer, o que as pessoas não esperam que eu faça, é exatamente o que eu faço. Andei sempre contra a maré que nos indicava quais as nossas hipóteses, até onde é que podia ir. E eu olhava para isso não como uma limitação mas como algo que eu iria provar que não era bem assim.

Era insubordinada?
Eu odiava rezar. E também não gostava dos trabalhos manuais. Mas escrevia muito bem, então fazia o jornal da escola e especializei-me a fazer tradução do espanhol para português de músicas religiosas e de poemas. No colégio eu era “la chica ente” – porque eu era tudo o que acaba em “ente”: impertinente, insolente, inconsequente. Passava o tempo todo a questionar tudo. Não me importava com aquilo com que a maioria das minhas colegas se importavam, que era com a roupa – não se podia usar blusas de alças nem saias por cima do joelho. Isso para mim era indiferente. Mas questionava muito as regras e as ideias. É mesmo necessário fazer assim? Não há outra forma de fazer? Então uma das irmãs dizia-me: “Joacine, la sociedade no te aguentará.” Essa frase acompanhou-me sempre.

E como é que a sociedade a aguentou? Foi difícil sair do colégio e enfrentar a vida real?
A ideia era educar aquelas meninas para elas se inserirem na sociedade, para a obediência, para a organização, para saberem comportar-se fora dali. Mas ao mesmo tempo, aquelas irmãs espanholas ensinaram-nos a ser muito autónomas, a nunca dependermos de ninguém. Ensinaram-nos que devíamos estudar para ser alguém. Houve um momento em que eu decidi sair, achei que já era tempo de ir para casa do meu pai. Alverca tinha um bairro social chamado Arcena que tinha muitos guineenses, cabo-verdianos e angolanos. Inicialmente era um bairro de barracas, mas com os anos as barracas desapareceram e as pessoas viviam em prédios que não tinham sido acabados de construir. Mas eu adorava ir para lá, adorava estar naquele ambiente. Os meus primeiros namorados eram rapazes de Arcena, as minhas melhores amigas eram de lá. E isto deu-me algo de que eu necessitava imensamente na minha vida: a africanidade. Esta mudança pôs-me em contacto com a realidade dos imigrantes, os empregos precários, as dificuldades financeiras. A minha família também tinha dificuldades. Eu era a mais velha de oito irmãos e ajudava a tomar conta deles, dava-lhes banho, levava-os à escola, tentava educá-los o melhor possível.

E começou a trabalhar muito cedo.
As mulheres iam para o Ribatejo trabalhar na agricultura, na apanha do tomate e das uvas. E houve umas vezes que eu fui com a minha madrasta, nos meses de agosto e setembro. A apanha de tomate era um trabalho muito difícil. Desde manhã muito cedo, com um sol intenso, nós com uns panos amarrados à cabeça, aquele cheiro ácido do tomate que se entranhava nas unhas e na pele, e éramos nós quem tinha de carregar as caixas pesadíssimas. Éramos pagas de acordo com o numero de caixas que conseguíamos. Havia umas mulheres que eram máquinas autênticas. Eu sentia-me completamente inútil porque não tinha a resistência física que elas tinham. E era uma exploração, para ganhar alguma coisa tinham de se esforçar imenso. Ali percebi que a única coisa que eu poderia fazer era estudar. Porque se eu tivesse de ter aquela vida não iria ter dinheiro para me sustentar. Depois, estive nos supermercados a fazer publicidade de todo o tipo, de iogurtes, de queijos, de maquilhagem, de tintas para o cabelo, de chocolates. Trabalhei nos supermercados durante toda a licenciatura e conciliava também com o trabalho em hotéis, como empregada de quartos, nas épocas altas.

Imagino que não tenha sido fácil.
Quando entrei para a universidade nem sabia que eram precisos 25 euros para fazer a inscrição. Cheguei ao ISCTE e não tinha o dinheiro, tive de telefonar a tios e amigos. Se eu nem sequer tinha 25 euros para a inscrição, como é que iria fazer para tirar o curso? Tinha de trabalhar. Eu autossustentava-me, nunca pedi nada aos meus pais. Pelo contrário. Sempre foi minha opção ajudar os meus pais e com os meus ordenados comprava bicicletas para os meus irmãos, levava-os a passear, a ver um filme, a ir almoçar fora – porque na minha infância eu nunca tinha ido almoçar num restaurante e achava que essa experiência era importante para eles, para não sentirem as ansiedades e as inseguranças provocadas pela segregação social, urbana, económica, arquitetónica. A ansiedade provocada por entrar num edifício enorme, moderno, espelhado, como se nós não estivéssemos no nosso espaço. Há uns anos isto inibia-me de entrar em determinados espaços. É a maneira como nos olham, mas também a maneira como nós nos sentimos, o nosso olhar sobre nós mesmos, a incorporação da discriminação. Não se fala muito disto, mas os centros comerciais foram importantes porque contribuíram para democratizar determinados espaços. E eu achava que os meus irmãos não tinham de atravessar aquele deserto enorme que eu atravessei. No último ano da universidade economizei dinheiro e fui para a Guiné, visitar a minha avó. Foi a primeira viagem que fiz.

Porque é que decidiu estudar História?
Queria estudar a história de África. E foi uma grande desilusão porque o meu curso de História Moderna e Contemporânea não tinha uma única disciplina sobre África, as que havia eram optativas, fiz todas as que havia que se relacionassem com África. E depois podemos falar de outra coisa: a maneira como a nossa história nos é ensinada. É a história da heroicidade, dos reis, das batalhas, das conquistas. A história que durante muito tempo nos foi ensinada foi a história das instituições, das elites. Por exemplo, estudei o colonialismo e nunca entendi: como é que os africanos não resistiram? Como é que admitiram a colonização e, mais do que isto, como é que admitiram a escravatura e o tráfico de pessoas escravizadas? Claro que há uma omissão da história da resistência. Ainda hoje, e nos espaços mais insuspeitos como as universidades, ouvimos essa versão do bom colonizador. A ideologia colonial nunca desapareceu completamente.

Na verdade, só nos últimos anos é que se começou realmente a fazer esse debate…
Ouve-se várias pessoas dizer que é um anacronismo, não se pode analisar e julgar o passado com os olhos de hoje. Mas toda a gente julga o Holocausto. Ninguém se lembra de dizer “nessa altura era assim, era um costume da época”. E ensinaram-nos a escrever Holocausto com H maiúsculo, mas não escrevemos escravatura com E maiúsculo. O que eu penso é que da mesma maneira que estamos disponíveis para celebrar as viagens, as descobertas científicas e marinhas, a ida para outras áreas, novos mares, novas pessoas, também precisamos de aceitar e reconhecer a parte violenta do colonialismo e a desumanização de milhões de africanos. Se se faz uma coisa, deve-se fazer a outra. A época colonial é muito recente. O fascismo foi derrotado há 45 anos e ao mesmo tempo também estava já antes a ser derrotado o colonialismo. Talvez por isso é que em Portugal ainda se esteja, como diz a artista e pensadora Grada Kilomba, na fase de negação, enquanto outros países, como os Estados Unidos da América, estão na fase de reconhecimento para que se faça agora a reparação. E esta precisa de ser a época de reconhecimento da época histórica do colonialismo e de todas as suas violências e todas as suas maravilhas, que também as houve, mas não para os colonizados nem para os seus descendentes. Deveríamos reconhecer, aceitar e encontrar maneiras de nos relacionarmos com isto para que a história não se volte a repetir. E para que toda a gente tenha a memória do que o colonialismo efetivamente era. É esta falta de memória que pode alimentar as emergências dos fascismos.

Foi por isso que aceitou ser candidata pelo Livre?
O meu objetivo primeiro foi mostrar que todos nós temos o direito e também a responsabilidade de contribuirmos para a sociedade. Sempre fui apaixonada por política mas numa ótica de analista, investigadora, historiadora. Tal como a maioria das pessoas de minorias étnicas, nunca me interessei por política partidária nem nunca participei, embora tivesse adquirido a nacionalidade quando entrei para a universidade. Mas nunca vi ninguém à minha volta a levantar-se para ir votar. Mas depois comecei a ter contacto com algumas associações de imigrantes e também a auxiliar algumas pessoas a tratar de documentos, de vistos de trabalho e da nacionalização, e percebi que havia uma série de injustiças e de incongruências que era preciso resolver. E, à medida que fui intensificando o meu ativismo, eu mesma comecei a incentivar as pessoas a irem às urnas votar, a escolherem aqueles partidos que representam os interesses dos imigrantes, das minorias étnicas, dos mais humildes, dos mais pobres, das mulheres, etc. Às vezes os amigos diziam-me para entrar nos partidos deles. Mas eu achava que nenhum daqueles partidos me transmitia a segurança que eu necessitava para entrar.

Até que há quatro anos recebeu um telefonema de Rui Tavares…
O facto é que este convite do Rui veio exatamente na hora em que eu desejava isto. E o Livre é um partido com cinco anos que desde o início se intitulou ecologista, europeísta, antirracista e que defende a igualdade e a paridade. Da mesma maneira que também, e foi isto que imediatamente me interessou, não há uma direção partidária a escolher quem é que faz parte das listas, há eleições primárias, qualquer pessoa pode ser escolhida por qualquer pessoa, isto é uma enorme ferramenta democrática. Não precisamos de estar submetidos e obedientes a uma direção partidária.

Ser a primeira mulher negra cabeça-de-lista de um partido numas eleições legislativas é um marco mas também é uma enorme responsabilidade?
O aumento de representantes de minorias étnico-sociais na Assembleia da República é um facto: já temos uma candidata do Bloco de Esquerda, Beatriz Dias, que vai ser eleita, e outra, igualmente mulher negra, Romualda Fernandes, em lugar elegível pelo Partido Socialista. Mas é preciso mais para reforçarmos isto. E foi o meu partido que iniciou esta revolução, elegendo-me a mim como cabeça-de-lista. Independentemente do resultado, isto é muito importante historicamente: nunca houve antes uma pessoa negra e mulher cabeça-de-lista numas eleições legislativas. É um exemplo não só para as pessoas de origem africana mas igualmente para todos os portugueses e portuguesas que tal como eu não são oriundos de uma família de elite financeira, intelectual, política. Isto é dar um sinal inequívoco de que há espaço para toda a gente e que esse espaço deve ser conquistado mas também deve ser construído. É da responsabilidade do Estado, dos nossos políticos e também da sociedade construir esse espaço hoje, abrir alas e convidar pessoas a entrar e não só ficar à espera de que essas pessoas, ou os filhos delas, um dia, daqui a uns anos, tenham a hipótese de fazer qualquer coisa. Para combater e eliminar as desigualdades, é preciso abrir espaço para as pessoas pobres, mulheres, minorias, de diversas áreas. Esta é uma época em que está a haver uma dinâmica social no sentido de uma verdadeira igualdade, que é interseccional – as feministas são também antirracistas, um ecologista não pode ser homofóbico, um ativista LGBT não fica indiferente à discriminação de outras minorias. É esse tipo de interseccionalidade que desejamos. E é isso que estamos a ver. Ainda é um início, não adianta entrarmos em euforia. Mas é um início absolutamente necessário.

Esse já era o seu discurso na campanha das últimas eleições europeias…
A Europa debate-se com um problema enorme com os migrantes – que são refugiados, mas não são chamados assim porque isso iria exigir uma resposta das instituições. O que nós achamos é que a Europa só pode ser verdadeiramente democrática quando não excluir ninguém e quando quer o Parlamento Europeu quer os parlamentos nacionais forem um reflexo das nossas sociedades multiétnicas, multirreligiosas, multiculturais, com homens e mulheres, heterossexuais, homossexuais, etc. Não há homogeneidade. Para isso temos de resgatar os valores da Europa. Porque é nesses valores que vamos encontrar os instrumentos para combater as ideologias fascistas, ultraconservadoras, misóginas, sexistas, elitistas.

As reações à sua candidatura não são todas boas, obviamente. Como é que lida com isso?
Estes últimos anos mostraram-me que vivemos num país onde ainda há muitas questões por resolver, e é óbvio que há uma elite que não está disposta a que haja alterações que ponham em causa os seus privilégios. E basta ver as caixas de comentários de alguns artigos em que se debate estes assuntos. Mas eu não vejo essas reações como um ataque, vejo-as como reações a uma movimentação social, essa reação só existe porque as instituições estão a mudar. E há uma discussão mediática a acontecer que antes só acontecia entre nós, à mesa do almoço, nas nossas casas. Haver essa discussão é um bom sinal, um começo, embora ainda haja muito a mudar. Por exemplo: não existem colunistas negros nos jornais em Portugal. Isto é algo absolutamente incrível num país que diz que não é racista, que acha que é um exagero enorme falar dos efeitos da Guerra Colonial.

Refere-se à sua gaguez com enorme à-vontade. Sempre foi assim?
Sempre gaguejei e isso nunca me inibiu. Os meus pais e a minha avó relativizaram sempre muito a minha forma de falar, brincavam com a minha gaguez e sempre me fizeram sentir à vontade. Mesmo no colégio, eu era a apresentadora das festas de Natal e, em situações importantes, eu era a escolhida para ler em voz alta e para falar. Todos os meus castigos eram porque eu estava a falar de mais. Tudo isso alterou-se no 12.º ano com a ansiedade de entrar na universidade. Comecei a sentir nos ombros o enorme peso de ser alguém de uma família que não tinha recursos. Tomei consciência de que não estava numa posição favorável. E, além do mais, gaguejava. Sabia que tinha de enfrentar situações em que seria avaliada pelo meu aspeto, por aquilo que dizia, pela maneira como falava. Foi o início de uma inibição. Comecei a optar por ficar calada.

Mas agora já não fica calada. O que é que mudou?
Costumo contar aquela história de quando um dia fui a um café e queria uma Coca-Cola e comecei a gaguejar muito. As pessoas na fila atrás de mim estavam à espera, a empregada do café começou a perder a paciência e eu acabei por pedir uma água. Mas, depois, pensei melhor: eu não quero uma água, quero uma Coca-Cola e é isso que vou pedir, não me interessa o que os outros pensam. Comecei a perceber a urgência de assumir definitivamente isto: eu gaguejo quando falo. Isso não me impede de rigorosamente nada. Não posso continuar a esconder este facto e a substituir as palavras. Com o nascimento da Anaís, a minha filha, há quase três anos, acabou-se toda a timidez, todas estas questões desapareceram. Porque eu agora tenho uma grande responsabilidade. Sou a maior referência para ela, portanto, não posso estar com ela a olhar para mim e eu a desejar uma Coca-Cola e a pedir uma água. Não quero que a minha filha aprenda comigo a inibir-se e a esconder-se.

 

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