Jovem denuncia racismo de mulheres que riram e fotografaram seus cabelos em SP

A agente de atendimento de telemarketing de 21 anos, Idrissa Bello, já não dá ouvidos para as piadas quase diárias relacionadas aos seus cabelos crespos e volumosos. “Senão a gente não vive”, explica ela. Mas, na última terça-feira, um episódio a fez parar na delegacia para denunciar o racismo que sofreu no metrô em São Paulo: duas mulheres, em ar de deboche e entre muitos risos, tiravam fotos de suas madeixas. Quem a alertou foi um outro passageiro, incomodado com a cena, e Idrissa resolveu não deixar a atitude preconceituosa por isso mesmo: registrou queixa na delegacia e escreveu um relato — já viral — no Facebook sobre o assunto.

Do Extra

Além de uma foto em que mostra o rosto inchado pelo choro, tirada na estação policial, Idrissa publicou no post um texto em que fala de sentimentos como “humilhação” e expõe indignação diante do que considera descaso da polícia, que teria aconselhado a não dar continuidade ao processo. “Ontem foi minha vez de ter a certeza de que o país em que vivemos é uma merda, e que se você não for loirinho dos olhos azuis, com um emprego bem remunerado e morador da zona norte, pode esquecer, baby. Mesmo que esteja certa, vai se sair como errada seja lá qual for a situação”, desabafou.

post-idrissa-racismo

Ao EXTRA, Idrissa contou que vai seguir adiante com a denúncia e pretende processar as jovens envolvidas no caso, registrado na DELPOM da Barrafunda.

— Eu amo meu cabelo, o volume dele, gosto dele como ele é, mas a atitude das duas me deixou muito chateada. Ainda estou bastante chateada. Vou continuar brigando, porque não fui a primeira a passar por isso, nem serei a última, mas não quero que a minha filha sofra com esse tipo de preconceito — afirma.

Para Idrissa, as jovens pareciam acreditar que seus atos ficariam impunes, já que continuavam rindo em tom de deboche, segundo ela, mesmo na delegacia.

— O mais estranho é que elas nem me respondiam. Quando o problema começou, elas não se dirigiam a mim, só falavam com as testemunhas. Depois, na delegacia, continuaram rindo com parentes, brincando. Por que elas se incomodariam? O problema não era com elas — ironiza Idrissa, que faz ainda um alerta: — Precisamos falar sobre preconceito e racismo. O problema é que muita gente acaba não denunciando e é por isso que continuam acontecendo casos como o meu — protesta.

 

 

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