Jovens negros ainda pagam com a vida o custo da desigualdade racial

 

Constatação foi feita ontem em audiência pública na CDH que avaliou as conquistas da população negra, a exemplo das políticas afirmativas.

Um adolescente negro, de 15 anos, chamou a atenção para a questão da violência contra os jovens negros no país, em manifestação durante audiência pública realizada ontem no Senado.

Kiluanji Graciano Inocêncio contou que, toda vez que sai de casa, os pais sempre lhe indagam se está levando a carteira de identidade.

Ele disse que não dava importância a esse “detalhe”, mas os pais insistiam lembrando que um jovem como ele sem documentos seria alvo mais fácil para policiais acostumados com estereótipos.

Custo a acreditar nas razões que me levam a ter mais chance de ser assassinado que um jovem branco — comentou, durante audiência promovida pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) com o objetivo de comemorar os 25 anos da Fundação Cultural Palmares e os 10 anos da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).

Estatísticas mais recentes citadas no debate justificam os temores da família de Kiluanji. De acordo com o Mapa da Violência 2013, de cada dez jovens assassinados, oito são negros.

O fato de fazer parte dessa população significa pertencer a um grupo de risco em termos de violência, inclusive de assassinatos resultantes de abordagens policiais.

Kiluanji disse que a violência é uma preocupação que afeta a maioria dos jovens negros do país.

Pessoalmente, ele afirmou que convive com sentimentos “contraditórios”: o entusiasmo com os primeiros efeitos das ações afirmativas no país e o abatimento diante da violência que alcança jovens afrodescendentes.

Disse ainda que chegou a considerar se não seriam as políticas afirmativas o motivo de tanta violência.

Não que eu desconheça o racismo. O que me incomoda é o fato de ele ser tão eficiente — salientou o jovem.

Diante dos fatos, ele afirmou que não resta outra alternativa para os jovens negros senão procurar se fortalecer.

Nesse sentido, conforme avaliou, o apoio nos valores da cultura negra deve servir como fonte de orgulho e de identidade na busca de enfrentamento do “terrível momento”.

Instalação de CPI

Paulo Paim (PT-RS), que propôs a audiência e coordenou as atividades, registrou que a Casa está para instalar uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar a violência contra os jovens negros.

O senador comentou que Lídice da Mata (PSB-BA), proponente da CPI, deverá ­escolher que cargo que ocupará na comissão, provavelmente a presidência. Nesse caso, ele será o relator.

Mais adiante, Luiza Bairros, a titular da Seppir, reconheceu progressos ocorridos em decorrência das ações afirmativas e de políticas sociais como o Bolsa Família, que atendem majoritariamente famílias afrodescendentes.

Porém, afirmou que as conquistas ainda estão “sombreadas” por diversos problemas, entre os quais a alta taxa de assassinatos de jovens negros.

A ministra da Cultura, Marta Suplicy, disse que as ações afirmativas são as mais eficazes na promoção da igualdade racial.

De acordo com ela, agora é preciso lutar para que as ações sejam ampliadas e efetivamente implementadas.

Marta destacou ações culturais que contribuem para o mesmo objetivo, como o Vale Cultura.

Vinculada à pasta da Cultura, a Fundação Palmares deverá iniciar no próximo ano a implantação do Museu do Negro, a ser instalado em Brasília, conforme informou a ministra da Cultura.

Na opinião do presidente da Fundação Palmares, ­Hilton Cobra, a dimensão racial precisa ainda ser mais bem incorporada na definição das políticas culturais.

Ele falou dos “espartilhos legais” e das limitações orçamentárias que impedem uma atuação mais destacada.

 

 

Fonte: A Critica 

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