Joyce Ribeiro expõe falta de negros no jornalismo: ”Poucas parecidas comigo”

Enviado por / FontePor Ives Ferro, da Ana Maria

Apresentadora cita Glória Maria e Dulcinéia Novaes como inspirações, destacando o racismo nas redações jornalísticas

Para a jornalista e escritora Joyce Ribeiro, é um deleite ser inspiração para diversas gerações que pretendem ingressar na profissão. Aos 42 anos, ela está à frente do ‘Jornal da Tarde’, na TV Cultura, é mãe de duas filhas, e caracteriza tudo como fruto de “realização, alegria e responsabilidade”. Segundo ela, os anos de estudo e carreira foram árduos, já que a imagem da mulher negra no jornalismo parecia algo distante.

“Eram poucas as mulheres parecidas comigo na TV. Sempre me inspirei na Glória Maria e na Dulcinéia Novaes, que mesmo começando antes, em um cenário muito mais resistente a presença do negro na TV, conseguiram lutar, insistir e desenvolver carreiras brilhantes que são exemplos para profissionais que vieram depois”, destaca ela à AnaMaria Digital.

A falta de profissionais negros nas redações e a dificuldade para a presença de apresentadores negros, segundo Joyce, expressam o alcance do racismo na sociedade, sobretudo nos ambientes de trabalho. Chegar onde está hoje sempre foi um sonho: “Acreditar que seria possível me tornar uma apresentadora, sempre foi saber que teria que enfrentar o racismo e a resistência ao desenvolvimento do negro no ambiente corporativo”.

“Faço com o objetivo de contribuir, formar e informar o nosso público. A preparação diária para realizar nosso trabalho é mais do que especial, com muitos profissionais envolvidos e dedicados, focados em produzir e transmitir as notícias mais importantes para a população… uma rotina que eu amo”, completa a profissional. 

FAMÍLIA

Mãe de Lorena, 5, e Maria Luísa, 8, ela conta que as filhas estão aos poucos entendendo o que é o racismo e como lidar com situações desgastantes no dia a dia. Joyce explicoo, por exemplo, sobre a cor da pele poder “causar problemas” por conta de algumas pessoas não gostarem de seus traços.

“De acordo com a idade de cada uma delas, é o entendimento de cada fase, vamos conversando sobre o tema, os conflitos que vão aparecendo, as palavras e expressões desagradáveis que vão descobrindo… tudo isso falamos abertamente, explicamos e buscando prepará-las para que saibam enfrentar estas situações com maturidade no futuro, pois infelizmente se repetem cotidianamente… e elas precisam estar prontas”, lamenta.

Joyce Ribeiro (Foto: Carol Coelho)

ROMANCE DE UMA VIDA


Com lançamentos no Brasil e em Portugal, a obra biográfica ‘Chica da Silva – Romance de Uma Vida’, traz novas facetas da mulher mineira escravizada. Contudo, para além das versões cinematográficas e ficcionais, Joyce ressalta que seu livro traz informações que nos aproximam das características humanas mais ocultas de Chica, ao propor um paralelo entre os desafios que ela enfrentou no século 18 e as dificuldades que as mulheres ainda enfrentam nos dias atuais. 

“Muito diferente da imagem excêntrica, escandalosa e amoral que ao longo dos anos foi repassada. A verdadeira Chica da Silva tem outros contornos que, aos poucos, vão sendo revelados”, destaca a escritora.

Segundo Joyce, existem muitas similaridades entre Chica e as mulheres atuais. “A coragem para transformar a própria vida e a das pessoas a seu redor, a crença de que sua condição de vida deveria ser diferente, a consciência sobre a importância da educação para suas filhas, a defesa de seus posicionamentos mesmo quando as mulheres eram silenciadas e não tinham espaço para crescer e se manifestar. Assim como as mulheres de hoje, Chica lutou com as ferramentas que tinha para mudar aquilo que não aceitava e julgava errado”, completa.

Com carreira de escritora e jornalista consolidadas, Joyce celebra ser um exemplo para jovens negros, dizendo ser uma honra e uma grande responsabilidade. “Fico feliz por ter realizado sonhos pessoais e profissionais que hoje podem servir de referência para jovens que começam a trilhar caminhos profissionais, sonham com oportunidades de trabalho e em mudar a sua realidade e de suas famílias”, avalia.

Quando falamos em representatividade, segundo ela, falamos na possibilidade de crianças e adolescentes se enxergarem de maneira positiva e de lutarem para replicar em suas vidas exemplos que deram certo na trajetória de outras pessoas. “Só a educação e o acesso a todas as oportunidades podem proporcionar avanços”, destaca.

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