Luiz Gama é a partir desta quarta-feira (17) Patrono da Abolição da Escravidão do Brasil. A Presidência da República sancionou nesta data dois Projetos de Lei (PL) do deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) que têm por objetivo reconhecer a história do advogado e ex-escravo Luiz Gama. O título de patrono está previsto no PL 1927/2015 enquanto o de número 1926/2015 incluirá Luiz Gama no Livro dos Heróis da Pátria.
Por Railídia Carvalho, do Portal Vermelho
foto montagem: Vermelho
Para o deputado do PCdoB a homenagem é mais do que justa. “Luíz Gama foi fundamental para a libertação dos escravos no Brasil e tem uma história belíssima: nasceu liberto, foi escravizado, conquistou a sua liberdade e fez da sua vida uma missão para libertar outros irmãos negros. Reconhecer a sua trajetória é reafirmar a sua importância e mostrar para as novas gerações esse símbolo do combate à escravidão”, completou.
A poesia de Raul Pompéia descreveu a personalidade de Gama: “E Luís Gama fazia tudo: libertava, consolava, dava conselhos, demandava, sacrificava-se, lutava, exauria-se no próprio ardor, como uma candeia iluminando à custa da própria vida as trevas do desespero daquele povo de infelizes, sem auferir uma sobra de lucro…”
Os “infelizes” eram escravos que buscavam o advogado para conseguir a liberdade. De acordo com o Instituto Luiz Gama, o advogado “usando de sua oratória impecável e seus conhecimentos jurídicos, conseguiu libertar mais de 500 escravos, algumas estimativas falam em 1000 escravos”.
Trajetória
Luiz Gama nasceu no dia 21 de junho de 1830 na Bahia e morreu em São Paulo em 24 de agosto de 1882. Teve o corpo sepultado no cemitério da Consolação, na capital paulista, em um cortejo acompanhado por 3 mil pessoas, segundo informa conteúdo do Instituto Luiz Gama.
Filho de Luiza Mahin, negra livre que teve participação em diversos levantes de escravos, Luis Gama foi vendido como escravo pelo pai e nesta condição, aos 17 anos, foi alfabetizado pelo estudante Antônio Rodrigues de Araújo, que se hospedava na fazenda do comprador de Gama. Após fuga para São Paulo, Luiz Gama atuou na Força Pública e tempos depois, mesmo sendo alvo de preconceitos, assistiu como ouvinte as aulas do Curso de Direito do Largo do São Francisco, atualmente faculdade de direito da Universidade de São Paulo.
Resistência do povo brasileiro
Foi com base no conhecimento adquirido no curso de direito, mesmo inconcluso, que Luiz Gama passou a prestar assistência aos negros escravos. “Quando se tem, no plano simbólico, a figura de Luiz Gama – um homem republicano, um abolicionista que foi escravizado, um jurista e o maior advogado da história desse país -, colocado como Herói da Pátria é um sinal de que a gente ainda pode resistir, que a gente ainda pode manter a Constituição com aquilo que ela tem de mais valioso que é a proteção às minorias, aos trabalhadores e ao povo brasileiro”, declarou Silvio Almeida, presidente do Instituto Luiz Gama. Na ocasião, os PLs de Orlando Silva haviam sido aprovados no Senado.
O deputado completou que “contar a história do Brasil passa por reconhecer os heróis que ajudaram a construir verdadeiramente a nação brasileira”. Na opinião dele, o reconhecimento a Luiz Gama traz um elemento a mais: é também uma forma de combater a discriminação e o racismo, dando exemplo de líderes e referências que ajudarão a formar a consciência antirracista do Brasil. “Luís Gama agora é herói nacional e eu estou muito feliz por ter sido o ‘patrocinador’ dessa iniciativa”, concluiu Orlando.