Mães acusam creche de BH de racismo contra crianças

Menino de dois anos chorou e pediu a mãe que cortasse seu cabelo crespo

Por Miguel Arcanjo Prado Do R7

Uma denúncia de racismo contra uma criança de dois anos e de outras crianças na faixa de quatro anos mobilizou dezenas de alunos da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e representantes do Grupo de Ações Afirmativas da Faculdade de Educação da universidade, do Coletivo dos Estudantes Negro (CEN) e do Centro Acadêmico do Curso de Ciências Sociais.

Na última sexta (20), eles protestaram na porta da UMEI (Unidade Municipal de Educação Infantil) Alaíde Lisboa, no campus Pampulha, em Belo Horizonte, onde teria acontecido o fato que causou revolta.

O motivo do protesto foi o mais recente caso de racismo acontecido na creche pública administrada pela Prefeitura de Belo Horizonte, onde estudantes da comunidade universitária deixam seus filhos.

Segundo relato da estudante de ciências sociais Ana Gabriela Terena, seu filho, de apenas dois anos, afirmou ter sido instruído na escola para cortar seu cabelo crespo. Em entrevista à Rádio UFMG Educativa, em reportagem de Natália Andrade, a mãe contou o episódio.

Ana Gabriela revelou que o filho lhe pediu para que “cortasse o cabelo, para que ficasse macio e cheiroso”. A mãe está indignada com o ocorrido.

— Quarta-feira da semana passada soube pelo meu filho que ele havia sido vítima de racismo. Meu filho de dois anos foi dormir chorando, pedindo para que eu cortasse o cabelo dele.

Outros casos

Ainda de acordo com a denúncia das mães, outras crianças, na faixa de quatro anos, sofrem discriminação por serem negras com omissão do corpo de funcionários da UMEI Alaíde Lisboa.

Em conversa com a reportagem do R7, Ana Gabriela afirma que “esta é a primeira denúncia pública, as outras ficaram restritas à direção da UMEI”.

— Quis dar visibilidade a esta denúnica porque meu filho não é a primeira vítima. Sabemos de casos de racismo na instituição desde 2009.

Ainda de acordo com a mãe, em reunião na última sexta (20) com presença da direção, das mães e de representante da Secretaria Municipal de Educação, ficou definida a criação de medidas para combater o racismo na instituição.

— Queremos o comprometimento da escola e da Secrataria no cumprimento da legislação que obriga o enfrentamento do racismo e a inclusão da temática étnico-racial no currículo escolar, abordando a cultura afro-brasileira e indígena. Afinal, a UMEI Alaíde Lisboa ainda é um espaço elitizado, já que a maioria dos estudantes é filha da comunidade acadêmica, em sua maioria branca. O negro é minoria também no sentido numérico na instituição.

Prefeitura de BH acompanha o caso

O R7 telefonou para a UMEI Alaíde Lisboa, mas ninguém atende o telefone.

A reportagem também entrou em contato com a Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte. A assessoria informou que o órgão acompanha o caso de perto, mas que não vai emitir nota a respeito.

Por telefone, a Secretaria ainda afirmou, por meio de sua assessoria, que a UMEI Alaíde Lisboa comunicou ao órgão sobre o caso e a manifestação e que este orientou os diretores da instituição. A Secretaria ainda afirmou que convocará a mãe para uma reunião ainda nesta semana, para que possa explicar o caso à entidade. E que o Núcleo de Relações Étnico Raciais acompanhará tudo de perto.

A Secretaria ainda informou que realiza formação do professor para que utilize em sala de aula as diretrizes curriculares étnico-raciais. E informou também que, na sexta (20), foi entregue um kit de literatura afro-brasileira para os professores.

Segundo o órgão, caso seja comprovado racismo por parte de algum funcionário da UMEI Alaíde Lisboa, este será encaminhado para Corregedoria Geral do Município de Belo Horizonte

Ironicamente, o logotipo da UMEI Alaíde Lisboa é uma bonequinha negra, em referência à personagem A Bonequinha Preta, que deu título ao famoso livro da autora mineira Alaíde Lisboa (1904-2006), que dá nome à escola.

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