Mangueira: Homilia Social das Liberdades

Por Profº. Drº. Babalawô Ivanir dos Santos (UFRJ/CEAP/CCIR), enviado para o portal Geledés

Ivanir Dos Santos / Arquivo Pessoal

Se bem cantam que o samba é a dança da reza, o que podemos dizer e compreender como o samba enredo da Estação Primeira de Mangueira? Após as seletivas dos enredos para o carnaval de 2020, a qual tive a honra em poder acompanhar, um desejo incomum me fez buscar algumas poucas reflexões que aqui vou humildemente tentar traduzir em brevíssimas palavras. Primeiramente é preciso ser dito e pontuado que, as seletivas para a escolha do samba- enredo da Mangueira, como de costume, contou com propostas de enredos que mergulharam profundamente. Entretanto, cá do meu canto, percebo e reflito que o samba-enredo, eleito para o carnaval de 2020, é cantado nos becos e vielas da Mangueira através das vozes da gente comum brasileira das comunidades periféricas cariocas, pode, bem como poderia, retratar experiências sociais cotidianas nas inúmeras comunidades do estado do Rio de Janeiro, ou quiçá nas regiões do Brasil. Comunidades, que traz em seu “rosto negro o sangue índio em corpo de mulher”, invisibilizada e silenciadas pelo poder público e marginalizadas pelo sistema social, político e econômico. E quantas “Marias das Dores Brasil” cabem ou estão presentes nas nossas periferias do nosso país?

Cá do meu canto, lhes convido a refletir sobre os múltiplos cenários onde a pobreza, a miséria, o preconceito e a intolerâncias se manifestam e respingam nas comunidades de forma trágica. E é através do monólogo, entre cristo e a comunidade, que a Estação Primeira Mangueira tece as suas críticas sociais e clama por transformações se encaixa perfeitamente uma reza à margem da sociedade. Cá do meu canto, vejo um o samba-enredo como uma verdadeira “homilia social” reivindicando a mensagem do “Jesus da gente comum”, que ao longo dos desenvolvimentos sociais e tramas históricas foi totalmente distorcida e substituída por uma mensagem que prega o ódio, o desrespeito, a falta de tolerância e equidade. E por isso a pergunta que marca é, “Mas será que todo povo entendeu o meu recado?”, pois o “Jesus da gente” se faz presente nas lutas contra as fileiras contra a opressão.

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