Medidas de combate ao terrorismo alimentam racismo e xenofobia, alerta especialista da ONU

Os governos devem fazer mais para combater o racismo, a islamofobia e a discriminação que se agravam em meio à ameaça de terrorismo em curso e são, em alguns casos, alimentados por políticas antiterroristas, de acordo com um relator especial das Nações Unidas.

Da Onu

Foto: Shutterstock

Mutuma Ruteere disse à Assembleia Geral em Nova Iorque que o discurso de ódio e as medidas de segurança estavam alimentando o racismo, a xenofobia e a discriminação com base na origem étnica das pessoas, bem como no status de migração ou religião – no contexto atual de medidas e legislação antiterroristas.

“O aumento dos ataques terroristas nos últimos tempos levou os Estados em várias regiões do mundo a adotar uma variedade de medidas antiterroristas”, disse Ruteere, relator especial das Nações Unidas sobre formas contemporâneas de racismo em seu relatório.

“No entanto, em muitos países, essas medidas provocaram preocupação com a proteção dos direitos humanos. Também testemunhei a proliferação da retórica antimuçulmana e o surgimento de partidos extremistas de direita.

“Enquanto isso, as políticas de combate ao terrorismo afetaram desproporcionalmente pessoas de certos países, restringindo consideravelmente sua liberdade de movimento. Vários países modificaram a legislação para tornar mais fácil retirar os cidadãos das suas nacionalidades se suspeitarem de atividades relacionadas ao terrorismo”, ressaltou.

Ruteere disse que abordar as desigualdades econômicas foi fundamental para enfrentar o desafio de combater o terrorismo sem alimentar o racismo, a xenofobia e a discriminação.

“Tenho notado que os partidos populistas ganharam apoio, capitalizando as preocupações dos cidadãos sobre os encargos financeiros da migração e sua crença de que os migrantes se envolvem em crimes, levam empregos dos cidadãos nacionais, representam uma ameaça à identidade nacional ou têm práticas religiosas incompatíveis com sociedades modernas”, explicou o especialista.

O relator especial destacou exemplos de boas práticas para os Estados e outros atores, incluindo medidas legais, políticas e institucionais adaptadas para combater o racismo, a xenofobia e a discriminação no contexto da luta contra o terrorismo.

O relator também apresentou um relatório sobre o combate à glorificação do nazismo, do neonazismo e de outras práticas que contribuem para alimentar formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância relacionada. O relatório se baseia em contribuições de 10 Estados, bem como de organizações não governamentais e outras organizações.

+ sobre o tema

para lembrar

O Peso da História: A Escravidão e as Cotas

A História ainda é uma bola de ferro que...

Carta-denúncia: violência e preconceito contra religiosidade

Carta-denúncia aos órgãos competentes do Governo do Estado da...

Faculdade de Direito vai recomendar a adoção de cotas raciais na USP

Decisão saiu após reunião da Congregação da tradicional instituição....

Franciele faz afirmativa sobre negros e leva bronca de Valter: “Isso é racismo”

Papo rolou na varanda da casa Sentada na varanda com...
spot_imgspot_img

Elites que se tornaram uma caricatura

Em salões decorados com obras que ninguém sabe explicar e restaurantes onde o nome do chef vale mais que o sabor da comida servida, uma parte da elite...

Festa de São Jorge é a utopia de um Rio respeitoso e seguro

Poucas celebrações são mais reveladoras da (idealizada) alma carioca e, ao mesmo tempo, do fosso de brutalidade em que nos metemos. Todo 23 de...

Belém e favela do Moinho, faces da gentrificação

O que uma região central de São Paulo, cruzada por linhas de trem, a favela do Moinho, tem a ver com a periferia de Belém, sede...
-+=