Memória africana recordada em exposição

Por: António Bequengue

 

Manhã cinzenta de sábado. Uma chuva miúda molha as ruas da velha cidade de Havana. Uma delegação angolana visita a Casa de África, no centro histórico da cidade, a famosa La Habana Vieja, onde está guardada parte da memória africana.

À chegada, a delegação angolana, chefiada pela ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, foi recebida ao som do batuque e outros instrumentos musicais, uma recepção proporcionada pelo grupo “Rumba Morena”.

Durante mais de 30 minutos, a delegação percorreu os vários espaços onde estão expostas centenas de peças de arte africana. As explicações sobre o acervo foram dadas pelo director da Casa de África, Alberto Granado Duque.

A colecção Escravatura coloca-nos face à realidade dos nossos antepassados. A mostra é constituída por objectos originais que vão desde uma carreta original utilizada para o transporte da cana-de-açúcar até caldeiras, mós de moinhos em granitos, instrumentos de castigo corporal.

Nesta colecção estão patentes os males que o tráfico negreiro fez a África, de onde foram deportados milhares de seres humanos para as Américas na condição de escravos.

Localizado no centro de Havana Velha, o edifício da Casa de África foi construído em 1887, na então vila de San Cristóbal de Havana.

No final do percurso encontrámos peças de arte angolana. Foi uma grande satisfação para os angolanos: a nossa cultura também está presente na Casa de África, que já recebeu a visita do Presidente José Eduardo dos Santos.

Do espólio da Casa de África fazem parte esculturas cokwe, bustos femininos e a imponente obra Chibinda Ilunga, para além das peças “Jogo de Mulheres” e “Mobiliário Tradicional”.

As peças em exposição são de fibra vegetal, madeira, barro, marfim, metais e pedra. Há peças de Angola, Congo Democrático, Congo Brazzaville, Cabo Verde, Burkina Faso, Nigéria, Ghana, Mali, Guiné-Bissau, Benin e Moçambique.

Da colecção de instrumentos musicais africanos fazem parte a marimba – Balafón – (Idiófono), Kora (Cordófono) e Mbira (piano de mão africano). Esta colecção é integrada por uma grande variedade de instrumentos musicais de diferentes países de África.

São instrumentos fabricados em diversos materiais. Os instrumentos são utilizados em cerimónias da vida quotidiana, como meio de comunicação com os quais se enviam mensagem e em actividades religiosas.

Desenvolvimento cultural

A ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, proferiu uma conferência sobre o “Desenvolvimento Cultural em Angola”, na Casa de África, tendo destacado a oportunidade que lhe foi dada de visitar aquela instituição de cultura e a valorização que foi dada à cultura angolana, através das artes.

“Aqui na Casa de África encontrámos imagens fortes do nosso passado, incluindo da escravatura, período doloroso da nossa História”, disse a ministra, acrescentado que durante muito tempo os angolanos não tiveram a possibilidade de estudar e dar a conhecer as suas relações deste período difícil.

Recebida por uma batucada, a despedida da delegação angolana não podia ser diferente. O grupo tradicional cubano “Rumba Morena” exibiu no final da visita a coreografia espiritual “Congo” (xinguilamento), montada na base de mistura de ritmos e danças da cultura espanhola e africana.

A ministra Rosa Cruz e Silva dançou com os bailarinos do grupo e mostrou que também sabe de danças tradicionais.

Peças valiosas

Para trás ficou uma visita memorial à Casa de África em Havana, que este ano comemora o seu 25º aniversário. O museu abriu as portas pela primeira vez ao público a 16 de Janeiro de 1986 (Dia dos Reis Magos) com uma vasta colecção etnográfica do continente africano.

A Casa de África exibe mais de quatro mil peças, desde monumentais trabalhos em madeira até minúsculas peças em marfim.

Entre as riquezas museológicas do seu acervo encontram-se algumas pertenças de Fernando Ortiz, entre as quais valiosíssimas peças de ouro.

 

Fonte: Jornal Angola

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