Meninas no Ceará são mortas por decretos de facções nas redes sociais

O feminicídio atinge jovens do sexo feminino de 12 a 19 anos e o assassinato visa retirar os símbolos de feminilidade como os cabelos e os seios

Na Marie Claire

Meninas são mortas no Ceará por decretos feitos por facções criminosas no Facebook (Foto: Per-Anders Pettersson/Getty Images)

Um cenário brutal tem tomado conta das regiões periféricas de Fortaleza, capital do Ceará: jovens entre 12 e 19 anos têm sido mortas por decretos de facções criminosas que deixam o aviso em redes sociais como o Facebook. Na guerra pelo poder do tráfico, a medida é para executar “cabuetas”, como são chamados os delatores na gíria local.

De acordo com informações da Folha de São Paulo, as meninas recebem o nome de “decretadas” e “devem ser mortas após a determinação da facção criminosa”. A jovem Luiza, de 15 anos, por exemplo, foi acusada de ser informante da facção rival e levada arrastada de casa, torturada por horas e atingida com sete tiros.

A morte entre jovens do sexo feminino saltou de 2% para 14% nos últimos dois anos, sendo 114 meninas entre 10 e 19 anos assassinadas no estado em 2018, um aumento de 43% na comparação com o ano anterior, segundo os dados do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência. Na capital, a situação é ainda mais alarmante: houve um aumento de 90% no número total de mortas.

Segundo a reportagem da Folha, as três principais facções que comandam o crime organizado no estado são a cearense GDE (Guardiões do Estado), a carioca CV (Comando Vermelho) e a paulista PCC (Primeiro Comando da Capital) e todos divulgam decretações nas redes sociais, principalmente no Facebook, por meio de perfis anônimos. As ameaças às garotas são mais frequentes e vem acompanhadas de xingamentos machistas.

Em algumas postagens existe também a forma como a garota deve ser morta, “sem massagem”, que com acréscimo de tortura. As jovens são estupradas, escalpeladas e têm seus seios cortados na hipervolência radical.

Algumas hipóteses levantadas pela polícia para o aumento no número de meninas mortas apontam para o envolvimento delas com garotos que integram grupos criminosos, a possibilidade de elas terem se tornado alvo de vinganças de facções e de estarem sendo cooptadas a assumir papéis dentro dos quadros dessas organizações.

Em resposta à reportagem, a assessoria de comunicação do Facebook disse que não tem conhecimento sobre as postagens de decretação e que removeu o conteúdo e as contas indicadas. Ainda segundo a empresa, tais posts violam as políticas de uso, que proíbem incitação à violência e organizações criminosas.

“Temos equipes dedicadas a segurança, e usamos uma combinação de denúncias da nossa comunidade, tecnologia e revisão humana para aplicar nossas políticas”, disse, em nota, o Facebook.

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