‘Menino não chora’ e outras 4 frases para não dizer ao filho

Tudo o que falamos para as crianças têm um impacto significativo na forma como elas vão agir no dia a dia, umas com as outras, e no futuro. Para os meninos, certas frases machistas, limitantes e carregadas de preconceito podem gerar muito sofrimento em qualquer fase da vida. Veja exemplos para eliminar já das conversas em família.

por Heloísa Noronha no Estilo UOL

1. “Menino não chora!”

O choro é a expressão de um sentimento – de alegria, inclusive – e independe de gênero. Ao tentar impedir que um garoto chore, a mensagem que o adulto transmite é a de que os homens devem reprimir as emoções, pois elas são sinais de fraqueza e pouca virilidade.

É importante que os pais e/ou cuidadores, principalmente, procurem dar significado às lágrimas das crianças, com frases do tipo “sei que você está triste” ou “é assim mesmo, calma”. Meninos que “engolem” o choro podem encontrar dificuldade de aceitar ou até de reconhecer as próprias emoções, quadro que pode desencadear doenças psicossomáticas e depressão.

2. “Vai lá e bate também!”

Não é nada construtivo ensinar uma criança a revidar um tapa, uma mordida ou um empurrão. Esse tipo de “conselho” estimula a falta de diálogo e a empatia. Vivemos em uma cultura de ódio e revanche, sobretudo nas redes sociais. Qual o sentido de incutir isso em uma criança?

E mais: a frase impõe que um menino precisa usar a agressividade para resolver um problema, algo que pode ter consequências devastadoras no futuro. De acordo com os especialistas, o ideal é mostrar que ser forte é ter habilidade de conversar e respeitar a opinião do outro.

“Bate que nem homem” é uma variação ainda mais problemática dessa frase, pois pressupõe que as mulheres são frágeis e indefesas e de que o homem deve ser violento e dominador.

3. “Isso é coisa de menina!”

Trata-se de uma expressão dita pelos adultos em diferentes contextos, mas os mais recorrentes são quando veem o menino brincando com algo tido “de menina” ou manifestando a vontade de ter ou usar alguma coisa cor-de-rosa.

Categorizar é limitar papéis e incitar preconceitos nas crianças sobre coisas que os adultos acreditam –e que não são verdades absolutas nem correspondem à realidade dos fatos. Também é uma mensagem errônea de que meninas são frágeis e têm comportamentos inferiores aos dos meninos. Quem faz sexismo e machismo são os adultos e não as crianças. Vale lembrar que a cor que uma criança usa ou o brinquedo com o qual ela brinca não determinará a orientação sexual de ninguém.

4. “E as namoradinhas?”

Com cara de brincadeira bobinha, feita para arrancar risos ou alguma resposta engraçada, é um gracejo nocivo. Primeiramente, porque pode despertar o interesse da criança sobre algo para o qual ela não é madura.

Em segundo lugar, porque passa a ideia de que os meninos, desde cedo, devem se preocupar em se autoafirmar, tendo várias namoradas. O que também expõe o menino à ideia que ele não precisa respeitar a mulher com quem assumiu um compromisso, pois faz parte do “papel do homem” ter várias garotas. Terceiro, porque objetifica as meninas –dificilmente esse tipo de pergunta é feita a elas, certo?

5. “Você um dia vai ser o homem da casa”

Como assim? Só os homens podem ser “donos” da casa ou “chefes” de família? É melhor repensar essa colocação, afinal, homens e mulheres são iguais em deveres e direitos.

É uma frase que não só põe a mulher, mais uma vez, em uma posição inferior, como desperta na criança um senso de responsabilidade que não lhe cabe e para o qual ela não está preparada.

Fontes: Cristiane Dameto, psicóloga de crianças e adolescentes e diretora do Ampliatta – Instituto de Educação em Psicologia e Saúde, em Bauru (SP); Fernanda Mary Machado, psicóloga e neuropsicóloga; Luciana Brites, psicopedagoga e cofundadora do Instituto NeuroSaber, em Londrina (PR), e Monica Pessanha, psicopedagoga e psicanalista infantil e de adolescentes.

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