Morre árvore de 200 anos, símbolo da cultura negra em Araxá

Lenda conta que dois escravos foram enforcados na árvore.
Depois disto, moradores diziam que ela chorava

 

Uma árvore de cerca de 200 anos, que simbolizava a cultura negra em Araxá, no Alto Paranaíba, em Minas Gerais, morreu. Mesmo após tentativas de recuperação, a cidade perdeu a Árvore dos Enforcados, que era um dos principais pontos turísticos da região. O pau de óleo, como é conhecida popularmente, fica no alto da cidade. O coordenador do Centro de Referência da Cultura Negra, Clayton Ayres da Silva, conta que a árvore chegou a ter frutos e folhas no início do ano passado.

De acordo com engenheiro florestal Romildo Klippel, do Instituto Estadual de Florestas, a árvore chegou ao fim do ciclo e morreu de causas naturais. A ausência de folhas e a soltura da casca indicam a morte, após 200 anos de história e lendas. A morte foi constatada pelo IEF no fim de dezembro do ano passado. Ainda segundo o instituto, a árvore não será retirada do local e os galhos devem cair naturalmente.

A árvore é considerada patrimônio histórico da cidade. A historiadora Bete Abdanur diz que a lenda relata que dois escravos foram enforcados na árvore, em meados do século XIX. Eles foram condenados, em júri, pela morte do senhor. Na época, moradores da cidade diziam que a árvore chorava e, por isto, ela virou símbolo da cultura negra.

Em dezembro de 2008, vereadores da cidade tentaram trocar o nome da árvore para “Libertação”, mas moradores teriam impedido a alteração, por meio de um abaixo-assinado.

 

Fonte: G1

ÁRVORE DOS ENFORCADOS, A
Araxá – Minas Gerais

A história ensina que no Brasil colonial e imperial, tanto índios quanto negros não aceitaram passivamente a escravidão que os portugueses impunham a eles, e para tanto promoveram diferentes formas de resistência. Os primeiros assim procederam desde a época do descobrimento, enquanto os africanos, tanto pelos que aqui chegaram nos navios negreiros, como por seus descendentes, não apenas articularam, mas também desencadearam movimentos rebeldes de maior ou menor repercussão.

O mais conhecido de todos foi o famoso Quilombo dos Palmares, em Alagoas, mas além deles inúmeras outras formas de resistência ao brutal sistema escravizador então vigente, como o suicídio, assassinatos, aborto e revoltas organizadas contra os senhores, medidas extremas também usadas pelos que a ele estavam inapelavelmente submetidos.

 

No entendimento de historiadores, essas revoltas contribuíram de alguma forma para a abolição da escravatura no Brasil, ressalvado, porém, o fato de que a transformação de homens livres em escravos também era praticada com freqüência nos quilombos. No de Palmares, por exemplo, os cativos se viam forçados a trabalhar nas plantações dos cereais que alimentavam os quilombolas, enquanto na Revolta dos Malês, ocorrida em 1835, na Bahia, buscava-se não apenas a libertação dos negros, mas também a submissão dos brancos, dos mulatos, dos cristãos e demais não muçulmanos.

 

Foi dentro desse contexto de maus tratos geradores de insatisfação e revolta, que ocorreu o episódio que se tornou conhecido como “Árvore dos Enforcados”. Muita embora não existam registros que comprovem a veracidade dessa história, conta à lenda que em Coromandel, Minas Gerais, dois irmãos escravos, cansados de serem maltratados por seu proprietário, o enfrentaram e terminaram por matá-lo em um momento de furor incontido. Descoberto o crime, os assassinos foram levados para Araxá e submetidos a júri popular, o primeiro reunido naquela cidade, sendo condenados à pena de morte por enforcamento. Para execução da sentença os responsáveis por ela escolheram uma árvore pau-de-óleo, ou copaíba-vermelha, que ainda hoje pode ser vista no atual bairro Alto de Santa Rita, próximo ao centro da cidade, esquina das ruas Avelino Guimarães com Gustavo Martins de Oliveira.

 

Consumada a execução, passou a circular na cidade a informação de nas noites em que o vento balança as folhas da árvore com maior intensidade, sons assemelhados a gemidos ecoam em surdina naquele local, tal como se fossem os emitidos pelos dois escravos no momento que antecedeu suas mortes. O pau-de-óleo em questão é hoje é conhecido como a Árvore dos Enforcados, sendo considerada patrimônio cultural de Araxá e referência da comunidade afro-descendente, Próximo a ela foi instalado o Centro de Referência da Cultura Negra de Araxá, que representa a comunidade ne gra da cidade, tendo a associação adotado o lugar como referência do seu passado, e desde então celebrado ali o Dia da Consciência Negra.

 

Preocupado com a preservação desse importante patrimônio cultural da cidade, a Fundação Calmon Barreto e a prefeitura araxense trabalham em conjunto no sentido de recuperar a árvore que hoje corre o risco de morrer, Considerada “Imune de Corte” por força da lei 451, de 21 de setembro de 1979, ela hoje se apresenta com brocas e fungos que comprometem sua vida, e por este motivo deverá passar por completa revitalização, Entre essas providências incluem-se a retirada de galhos secos e ervas daninhas, o combate a parasitas e retirada de todo o entulho existente em seu entorno, para aeração da terra e das raízes. Além disso, espera-se que a adubação do terreno, o plantio de grama e a construção de passarelas destinadas a orientar o público, sejam suficientes para prolongar por tempo indeterminado a sobrevivência de um dos principais pontos turísticos de Araxá,

 

Paralelamente a esse esforço conjunto da administração municipal e fundação cultural, os vereadores araxaenses também decidiram participar desse mutirão que objetiva recuperar e conservar viva a árvore histórica. Segundo o jornal Diário de Araxá, para tanto o vereador Wellington Gonçalves apresentou projeto de lei que tomou o número 205/08, segundo o qual a “Árvore dos Enforcados” tem seu nome alterado para “Árvore da Libertação”. E justifica tal procedimento afirmando inicialmente que “a árvore tem uma negatividade vinda do nome (…), e argumentando adiante que “a cidade está vivendo um momento com alto índice de suicídios e que o nome pode até estimular pessoas que estejam num momento ruim. Segundo ele, o novo nome traz uma imagem mais positiva à praça”.

 

Mas a historiadora Glaura Teixeira Nogueira Lima discorda desse pensamento, sustentando que “A árvore já tem uma identidade histórica. Trocar o nome dela é o mesmo que trocar o nosso nome ou o da cidade”.

 

No portal da Secretaria de Estado de Turismo de Minas Gerais a árvore é lembrada pela lenda como um dos atrativos turísticos da cidade, de onde se tem uma ótima vista.

Fonte: Recanto das Letras

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