Negros do PSDB: Serra bota Marrey para abafar crise no Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra

Fonte – Afropress –

 

S. Paulo – Depois de três adiamentos consecutivos, o Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de S. Paulo, se reúne nesta sexta-feira (05/06) para tomar posição diante da crise desencadeada após o Secretário de Relações Institucionais, ao qual o Conselho está subordinado, José Henrique Reis Lobo, ter declarado que “ações afirmativas só em 500 anos”.

Depois da reunião, marcada para as 14h, na Rua Antonio de Godoy, sede do Conselho, está previsto um encontro com o Secretário da Justiça e Cidadania, Luiz Antonio Marrey. A reunião com Marrey, que não estava prevista, segundo observadores, denota a preocupação da área política do Governo, com a repercussão das declarações de Lobo e os prejuízos eleitorais que a ausência de políticas para os negros e a falta de sensibilidade, pode representar para a candidatura do governador José Serra à Presidência da República no ano que vem. Marrey é considerado um dos secretários mais próximos à Serra.

Segundo a presidente Elisa Lucas Rodrigues, que vem sendo cobrada por ainda não ter se posicionado, no entanto, a reunião com Marrey é para tratar da Conferência de Promoção da Igualdade Racial, que acontecerá entre os dias 10 e 12 deste mês no Largo de S. Francisco. “Ele me sugeriu a reunião por causa da Conferência, para que pudéssemos conversar”, acrescentou.

A reunião com o Secretário da Justiça de Serra também pode significar a decisão do Governo – que estaria sendo cogitada – de transferir o Conselho da Secretaria das Relações Institucionais para a Secretaria da Justiça, o que significaria tirar o Conselho do comando de Lobo e, com isso, acenar com mudanças para abafar a repercussão do caso.

A avaliação da área política mais próxima à Serra é de que Lobo não tem jogo de cintura nem sensibilidade para lidar com o tema e que isso provoca desgaste para Serra, em um Estado que tem a maior população negra do país em números absolutos – 12,5 milhões – e que tem o maior eleitorado – 1/3 do qual de afro-brasileiros.

Tensão

Durante a reunião para a qual foram convidados os 32 conselheiros – 22 representando a sociedade civil e 10 o Estado – o conselheiro Paulo César Pereira de Oliveira (o segundo da esquerda para a direita na foto), coordenador do Centro Cultural Orunmilá de Ribeirão Preto, e uma das lideranças negras de maior prestígio no interior, proporá a renúncia coletiva dos conselheiros.

Ele próprio se desfiliou do PSDB, partido a qual estava ligado, e disse ter sido acompanhado por dezenas de outras lideranças negras de Ribeirão Preto e região. O primeiro a anunciar oficialmente o desligamento do Partido, foi o conselheiro João Benício, ex-coordenador da CONE/SP, e responsável pela Comissão da Diversidade da Secretaria do Trabalho do Município de S. Paulo.

“O momento é esse para se dar uma resposta à altura. É preciso aproveitar esse momento para fazer política negra, para além dos partidos. Esse Conselho está esvaziado e não tem mais papel algum”, afirmou Paulo César.

Renúncia

Elisa, por sua vez, disse que a reunião será uma reunião normal e descartou qualquer possibilidade de renúncia, hipótese que começou a ser ventilada, depois que ela cancelou compromissos de sua agenda no interior. “Não há nenhuma possibilidade de renúncia. Não estou preocupada nem um pouco com a reunião. Não tenho medo da reunião. Não tenho medo de dizer a verdade. Na hora certa vou me posicionar. Não sou ativista profissional e não dependo de emprego. Sou autêntica”, afirmou, acrescentando não estar movida por espírito de arrogância.

Segundo ela, a proposta da renúncia coletiva é isolada. “Essa idéia não pegou. Não precisei ligar prá ninguém. Ninguém se manifestou. Não acompanhou. Eu respeito o Paulo, mas não colou”, disse Elisa.

Segundo Paulo César, contudo, a proposta tem a simpatia de outros conselheiros. Afropress apurou que a defesa da renúncia deverá ter os votos de, pelo menos, mais dois outros conselheiros, que já se solidarizaram com o seu autor.

Cobrada por conselheiros que gostariam de ter um Conselho com uma posição mais altiva diante do Governo do Estado, Elisa se defende. “Esse é um grande momento, mas não adianta vir com fuzil na mão. Ninguém negocia com a faca no pescoço”, finalizou.

 

Matéria original: Serra bota Marrey para abafar crise no Conselho de negros

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