O Recreio da Casa Grande

Uma escola particular de Porto Alegre teve uma bizarra ideia pedagógica. Propor aos seus alunos de ensino médio, às portas do vestibular, que se fantasiassem daquilo que tripudiavam profissionalmente. Segundo a escola, era uma forma de tratar a frustração daqueles alunos caso não obtivessem êxito no vestibular. Uma latente contradição para uma instituição que anuncia ter como escopo “contribuir para uma sociedade mais humana, ética e justa”. O discurso transborda o aspecto progressista, na prática enxerga-se o antigo tradicionalismo escolar pautado na cultura elitista. Além disso, trata-se de uma estratégia decadente da escola em pressionar a sua mercadoria a terem sucesso, sob o risco de não se adequarem às normas profissionais vigentes da elite que estão situadas.

Por Leonardo Dallacqua de Carvalho para o Portal Geledés 

Em sua maioria, os frequentadores de tais escolas são de filhos de pais com “profissões desejáveis”. Representam aquela ínfima parte da sociedade que se apropria da decadência da escola pública para comprar o melhor ensino. O maior objetivo é o tecnicismo em vista do sucesso do incoerente vestibular. A engrenagem do mercado da educação gira em sentidos opostos para “desejáveis” e “indesejáveis”.

Podemos fazer o exercício imaginativo e nos perguntarmos se em uma escola pública de periferia os alunos aceitariam estes estereótipos de “profissões indesejáveis”. Tenho segurança que não, uma vez que seus pais exercem aquelas atividades. O pão de cada dia nasce do “indesejável” para alguns. Para uma parte da população não há escolha.

Este é mais um episódio da Casa Grande que tem na imobilidade social a razão do seu sucesso. Ao custo de muita gente que “não deu certo…”, conservam as antigas estruturas desiguais socioeconômicas. A atitude é um desespero de uma elite que precisa manter rígida as estruturas de opressão para o seu próprio sucesso. Precisam lembrar o lugar de cada um em uma sociedade desigual. Essa é a escola que “não deu certo”.

 

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