A maioria da população reconhece que o Brasil é um país racista, embora ainda prevaleça a tendência de refutar o racismo como prática particular —o que, convenhamos, embora não seja novidade é, no mínimo, um contrassenso.
A pesquisa nacional “Percepções sobre Racismo no Brasil” explicita a ruptura da hegemonia do mito da democracia racial brasileira e levanta dados que apontam o avanço do debate acerca dos impactos do racismo no país.
Dentre os participantes, 44% consideram que as desigualdades no Brasil estão relacionadas à raça/cor/etnia –para todos os gêneros, idades, faixas de rendimento, religiões, orientações políticas e em qualquer região.
Convidados a apontar a principal forma de manifestação do racismo na nossa sociedade, 66% citaram a violência verbal, como xingamentos e ofensas. O tratamento desigual foi lembrado por 42%; a violência física, como agressões, por 39%; a negação de oportunidades, por 28%; a intolerância religiosa, por 23%; a exclusão, o isolamento e o desprezo, por 22%.
No entendimento de 15% dos entrevistados, a pior manifestação de racismo é pressionar ou constranger alguém a mudar sua aparência –quem já se viu obrigado a alisar ou a cortar o cabelo, por exemplo, sabe o que é isso.
Para 11%, é ignorar a existência de determinado grupo de pessoas e, para 9%, são práticas ou ações que favorecem um grupo. Para 8%, o pior é a desigualdade de investimento em diferentes territórios, a depender de quem vive no local; 7% citaram a negação da história, das contribuições e das potências de um grupo específico; e 5% lembraram das ações e medidas institucionais do Estado e de organizações públicas e privadas.
O geógrafo Milton Santos dizia que temos dados suficientes sobre o racismo, a questão central é o que fazer com essas informações? Por essas e outras, aumentar a representatividade dos negros na política e nos espaços de poder e tomada de decisão é fundamental. Dá o que pensar.