Piada racista pode custar cargo a ministro francês

Diário de Notícias –

Uma frase dita a propósito de um luso- -argelino ameaça pôr fim abrupto à carreira política de Brice Hortefeux. “Um [árabe] está bem, quando são vários é que há problema”, disse o homem que alguns já anteviam como chefe do Governo.


A oposição socialista e as associações contra o racismo exigem a demissão de Brice Hortefeux. Num vídeo divulgado pelo jornal Le Monde, o ministro do Interior graceja com uma militante do seu partido que lhe apresentou um militante luso-argelino do seu partido dizendo-lhe: “É o nosso arabezinho.” Resposta do ministro: “É sempre preciso ter um por perto. Um está bem, quando são vários é que há problemas.”

 

O jovem militante do partido conservador francês UMP, Amine Benalia-Brouch, estava longe de imaginar que uma breve conversa com o ministro do Interior pudesse originar uma viva polémica em França. No sábado passado, o jovem de origem luso-argelina cruzava-se com Brice Hortefeux durante a universidade de Verão do partido governamental, em Seignosse, na região das Landes. O momento, captado pelas câmaras da televisão parlamentar, tinha sido censurado pela direcção de informação do canal, antes do vídeo ser publicado na quinta-feira no sítio do Le Monde. Nas imagens, uma responsável do UMP apresenta Brouch a Hortefeux como, “o nosso arabezinho”, “um exemplo de integração”, que “é católico, come carne de porco e bebe cerveja”.

 

“Então não corresponde ao protótipo”, disse o ministro antes de acrescentar a frase que gerou mais polémica.

 

O vídeo, já visto por mais de meio milhão de pessoas na Internet, provocou uma vaga de criticas às “piadas racistas” de Hortefeux, por parte das associações de luta contra o racismo à oposição socialista, que exigiu ontem a demissão do presidente. Entre as vozes criticas encontrava-se Paul Girot de Langlade, o prefeito francês demitido das suas funções há dias na sequência de um processo por “insultos racistas”, depois de ter declarado no aeroporto de Orly, “parece que estamos em África, todos os funcionários são negros”.

 

A vaga de críticas levou já o primeiro-ministro francês a intervir em defesa do ministro do Interior, e amigo pessoal do Presidente Nicolas Sarkozy. Rejeitando as acusações, Hortefeux, afirmou: “As declarações que proferi foram retiradas do contexto, uma vez que eram uma resposta às piadas de outros militantes sobre as minhas origens, da região de Auverne, por isso dizia que um estava bem, mas vários são um problema.”

 

O jornal satírico Le Canard Enchainé lançou ontem uma petição para pedir a demissão imediata de Brice Hortefeux, enquanto o sítio Internet Rue89, publicava a lista de outras piadas racistas atribuídas ao ministro, em especial referentes aos seus próprios colegas de governo, de origem argelina, como a antiga ministra da Justiça Rachida Dati, ou a ministra responsável da politica urbana, Fadela Amara.

 

A polémica ameaça abalar a carreira de Brice Hortefeux, criticado pela esquerda em 2007 depois de assumir o então recém-criado ministério da Identidade Nacional.

 

Alguns analistas apontavam-no como um possível sucessor do actual primeiro-ministro, François Fillon, cujas relações com o Presidente Sarkozy têm-se vindo a degradar nos últimos tempos. Falta saber se conseguirá resistirá à polémica.

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