Portugual: Mulheres negras unidas exigem justiça

Nós, mulheres negras de várias idades, origens e profissões, reunimo-nos hoje em silêncio e em consternação. Paradas em militância pela justiça, para afastar dos nossos corpos toda e qualquer violência. De pé, porque somos árvores que sustentam folhas e frutos que de nós dependem e por elas e por eles aqui nos encontramos. Os nossos olhares de consternação e a nossa respiração são marcadas hoje pelo cansaço e por uma revolta profundos.

Da INMUNE – Instituto da Mulher Negra em Portugal

Foto: Sofia Berberan

São nossas filhas e nossos filhos, irmãs e irmãos, companheiras e companheiros, familiares e amigos as principais vítimas da violência policial em Portugal. São os mesmos quem, desde tenra idade, estão sujeitas e sujeitos ao RACISMO INSTITUCIONAL e à acção coerciva do Estado.

São os nossos jovens, filhas e filhos, que mais facilmente são vítimas mortais às mãos das forças de segurança, que transformou a comunidade negra no seu alvo preferencial.
Chega de mortes, de tortura, de espancamentos e de abusos de autoridade. BASTA DE IMPUNIDADE!

Foto: Sofia Berberan

Não toleraremos mais que nenhum dos nossos filhos tombe por motivações raciais e que o Estado português não se empenhe a fazer justiça pelas suas mortes, pelas suas dores e pelo nosso sofrimento!

Não toleraremos mais a tortura, o espancamento, a humilhação e as ofensas de todo o tipo, vindas da parte da polícia, que não são relevadas nos tribunais porque os corpos violentados são os das nosssas filhas e filhos.

Não toleraremos mais a exploração laboral e os assédios que marcam as nossas vidas e a desproteção total que sentimos.

Não toleraremos mais a segregação habitacional, a pobreza, a falta de meios e a subalternização que o racismo legitima, porque sabemos que depende da nossa manifestação de repúdio, evitar que os nossos descendentes continuem numa roda de violências.

Nós somos uma força laboral importante, uma das que sustenta este país, apesar dos baixos salários e da precariedade a que estamos votadas, independentemente das habilitações e experiências que possuímos.

Exigimos uma justiça que não use como agravante para condenação a nossa cor de pele e que não nos animalize e não nos ataque por esse mesmo motivo.

Exigimos uma JUSTIÇA “justa” e imparcial, não-racista, não sexista e não classista, que trate qualquer cidadã e cidadão com a dignifique que todas e todos merecemos! Uma justiça que não pinte o suspeito de negro e que não faça por criminalizar os nossos descendentes.

Estamos em silêncio.
Não temos medo.

PELA JUSTIÇA! PELA DIGNIDADE!

(Fotografias de Sofia Berberan)

 

 

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