#Qualperfil? – origem de uma mobilização por equidade racial no mundo do trabalho

As indagações que movem essa campanha surgiram ao longo do projeto Central Solidaria de Oportunidades (CSO), uma iniciativa que busca identificar as possibilidades de troca e colaboração que existem entre os jovens de classe popular, empresários e organizações da sociedade civil que trabalham com juventudes nos municípios de São Gonçalo e Niterói, dentro do mercado de tecnologias da informação e comunicação.

Por meio de uma plataforma na web, a CSO alimenta e cruza informações em um banco de dados para viabilizar oportunidade efetivas de ingresso de jovens previamente capacitados ao mundo do trabalho. A partir da experiência com o encaminhamento desses jovens, identificou-se uma constante: os jovens mantidos nas vagas eram majoritariamente brancos, e isso independia da sua qualificação, competência demonstrada nos cursos ou mesmo experiência.

Buscando o embasamento de dados sérios para pensar o acesso da juventude negra de Niterói e São Gonçalo ao mundo do trabalho, a ONG BemTV, junto à Frente PapaGoiaba promoveu a pesquisa “A incidência do racismo na empregabilidade da juventude em Niterói e São Gonçalo“, que foi realizada pela equipe da BemTv com assessoria do Departamento de Métodos Estatísticos da UFRJ e apoio da União Europeia.

Desta forma, perante os resultados lançados pela pesquisa, a Frente PapaGoiaba de Promoção dos Direitos da Juventude Negra assume a iniciativa de mobilizar a sociedade civil. No intuito de sensibilizar o conjunto da sociedade fluminense e, em particular, os empresários e profissionais do mundo corporativo, a mobilização dá origem a duas campanhas que se articulam entre si: #QualPerfil? e [r+H]. Embora os preocupantes dados desvelados pela pesquisa, foi o depoimento de jovens que diariamente ouvem que ‘não se encaixam no perfil’ para uma vaga de emprego, o que levou a lançar o questionamento #QualPerfil? em busca de recursos mais Humanos.

Imagem do seminário #Qual o perfil?
(foto: Acervo bemtv campanha #qualperfil?)

Trata-se então, de duas campanhas com públicos e abordagens diferenciadas – uma voltada para sociedade em geral através da juventude e a outra para o segmento de empresários, profissionais de RH e de responsabilidade social corporativa – encaram  a mesma delicada questão: Como superar a distorção que leva à naturalização da discriminação racial, deslegitimado os saberes da juventude negra no ambiente profissional?

A Campanha #qualperfil? vêm para contar e apresentar outras narrativas, as histórias que foram silenciadas e que precisam ser ditas. Por sua vez, a campanha [r+H] por recursos mais Humanos, busca dar visibilidade a experiências positivas no âmbito empresarial para a sensibilização desses atores sociais e assim incidir na possibilidade de mudança deste quadro.

NITERÓI E SÃO GONÇALO, O CONTEXTO DESVELADO PELA PESQUISA

Os dados da pesquisa são alarmantes. No município de Niterói, 32,7% dos jovens entre 15 e 29 anos está desempregado, mais do que na Síria em guerra civil. Já em São Gonçalo, 34,7% da juventude não tem emprego, uma taxa maior do que a registrada entre os jovens do Haiti, país mais pobre das Américas.

Particularmente em Niterói, a situação é ainda mais crítica para os jovens autodeclarados pretos, quase metade deles (48%) está sem emprego. Nessa cidade, a única parcela da juventude que observa taxa de desemprego (53%) maior do que a taxa de emprego (47%) são as mulheres pretas.

Foto de uma mulher- mulher negra, de trancas, usando camiseta cinza- segurando um cartaz escrito #QualPerfil
(Acervo bemtv campanha #qualperfil?)

Niterói, além de apresentar PIB maior que o de São Gonçalo, é um município majoritariamente branco. Sua população jovem é constituída por 60,35% de brancos. A população jovem de  São Gonçalo é constituída por 45% de pardos e 12% de pretos. Logo, mais da metade dos jovens de São Gonçalo são negros. A pesquisa aponta que o racismo é maior em Niterói, enquanto a discriminação de gênero ocorre mais em São Gonçalo.

Preconceito, falta de oportunidades na educação, mercado de trabalho excludente. Em que lugar se esconde o racismo, já que é tão negado? A campanha #qualperfil? traz para a roda um debate por muito tempo adiado que não pode ser evitado. Por que os jovens negros escutam nas entrevistas de emprego, mesmo antes de terem seus currículos analisados, que não tem o “perfil” necessário para ocupar uma vaga?

Contatos:
Daniela Araújo- Coordenadora da ONG Bem Tv – (21) 98273-3023
Instagram- https://www.instagram.com/qualperfil/
Facebook Recursos + Humanos https://www.facebook.com/RHMaisHumanos/
Facebook QualPerfil?- https://www.facebook.com/qualperfil/
Site QualPerfil- https://qualperfil.pluriverso.online/
Site campanha r+H recursos mais Humanos (conteúdos voltados para empresários,
profissionais de RH e responsabilidade social)- http://r-m-humanos.pluriverso.online


** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

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