Reaproximação entre Cuba e EUA faz do Brasil parceiro estratégico

Com a abertura gradual do mercado em Cuba, Porto de Mariel será um dos principais do mundo e poderá receber navios do porte do Super Post Panamax, um dos maiores do mundo

Por Marcelo Hailer

A retomada das relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba, que há 53 anos estava interditada, é fato histórico e tão importante quanto a queda do muro de Berlim (1989), mas dizer que se trata do “fim da guerra fria” é um tanto apressado e equivocado. Porém, não deixa de ser simbólico a fala de Barack Obama ao afirmar que o embargo foi uma política errada e que produziu poucos resultados, por fim saudou: “somos todos americanos!”. Do lado cubano, Raúl Castro também comemorou a normalização da relação entre os dois países e afirmou que a revolução continua sem abrir mãos de seus “princípios”.

Quem tem muito a comemorar é o governo brasileiro que, desde que anunciou a construção do Porto de Mariel (2009) com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de R$ 800 milhões em obra tocada pela Odebrecht, foi vítima de toda a sorte de ataques, tanto de parte da imprensa que questionava “por que não investir aqui (Brasil)?” e da oposição, capitaneada pelo PSDB, que acusava o governo de estar financiando “uma ditadura”. E o que será que eles pensam sobre a relação do governo Obama com os ditadores de Cuba?

Acontece que o governo brasileiro, apostando e analisando os sinais políticos que deixavam claro que, cedo ou tarde, senão ocorresse o fim do embargo econômico, ao menos as relações entre EUA e Cuba se normalizariam – até por que, isso era uma promessa de campanha do presidente norte-americano. De qualquer maneira, o governo brasileiro se colocou na vanguarda e apostou no Porto de Mariel, que tem capacidade para receber navio do porte do Super Post Panamax, fato que Dilma Rousseff explicou para Aécio Neves em variados momentos quando o presidenciável tucano a acusava de não investir no Brasil e sustentar, ao redor do mundo, “ditaduras”.

O fim do embargo econômico ainda depende do Congresso norte-americano, mas, com a normalização da relação entre EUA e Cuba, o Brasil torna-se automaticamente país central e estratégico para esta nova fase de relações diplomáticas entre a ilha caribenha e a terra do Tio Sam. Para Cuba, o Brasil já é um parceiro estratégico, afinal, vale lembrar da sociedade entre os dois países com o programa Mais Médicos, que conta com 11 mil médicos cubanos, número que deve aumentar, pois o governo Dilma anunciou durante a eleição que vai expandir o programa com o braço Mais Especialidades.

Esta virada histórica e geopolítica no mundo ocidental revela que a política externa, ao contrário do que afirmam os setores oposicionistas, segue no caminho certo. O Brasil, hoje, é o principal país e economia da América Latina e, a sua relação com os países vizinhos não se dá pela simples exploração, mas sim por parcerias políticas e econômicas, para tanto, basta uma breve pesquisa sobre suas relações com Uruguai, Paraguai, Bolívia, Chile, Venezuela, Equador, e Cuba, claro.

Ou seja, para a sorte do Brasil, o projeto político que vislumbrava a rompimento diplomático com “governos autoritários” e a retomada da ALCA (Aliança de Livre Comércio das Américas) perdeu a eleição. Pois, com uma promessa como essa, imagine como ficaria o Brasil a partir de 2015: isolado geopoliticamente e reproduzindo a falida retórica neoliberal dos anos 90.

Foto: Blog do Planalto

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