“SBT não pode acobertar” Sheherazade, diz deputada

 

Em entrevista ao 247, deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) comenta a representação enviada à Procuradoria Geral da República que pede que emissora responda por “apologia ao crime” de Rachel Sheherazade; documento sugere “suspensão de verbas oficiais” ou “análise da própria concessão” durante o inquérito; “O SBT tem que responder por isso, não pode acobertar uma pessoa que, com toda a liberdade, manda matar”, disse, em referência ao caso dos “justiceiros”, defendido pela apresentadora

Gisele Federicce, 247 – As polêmicas e conservadoras posições da jornalista Rachel Sheherazade, apresentadora do SBT, chegaram à Justiça. Contra alguém que “com toda a liberdade, manda matar”, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) entrou com uma representação sobre o caso na Procuradoria Geral da República e discute o mesmo tema na Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), chefiada pelo ministro Thomas Traumann.

Em entrevista ao 247, Jandira defende que a emissora de Silvio Santos deve responder pela “apologia ao crime” praticada pela apresentadora, seja por meio de “suspensão do repasse de verbas oficiais” ou de “análise da própria concessão”. “O SBT tem que responder por isso, não pode acobertar uma pessoa que, com toda a liberdade, manda matar. E que isso sirva de parâmetro para outras emissoras”, diz a deputada, que já tem reuniões previstas com o ministro da Secom e com o Ministério Público.

O motivo da ação é o comentário de Sheherazade que foi ao ar no SBT Brasil no dia 4 de fevereiro, em que ela diz ser “compreensível” a ação de três homens que espancaram e prenderam nu a um poste um adolescente negro e morador de rua acusado de cometer pequenos furtos, no Rio de Janeiro. Segundo ela, esta foi a “legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite”. Após uma enxurrada de críticas, a apresentadora tentou se justificar na bancada: “o que fiz não foi defender a atitude dos justiceiros. Defendi o direito do cidadão de se defender”.

Para a deputada, “esses comentários provocam na sociedade a legitimação de quem quer agredir”. Ou seja, quem pensa como Sheherazade sente que tem permissão para agir como ela diz, na avaliação da parlamentar. Jandira conta que vivenciou um caso parecido durante o Carnaval e, como médica, precisou socorrer um jovem que estava sendo espancado por um grupo após ser acusado de ladrão. “Ninguém pode trazer para si o poder de julgamento. Estamos num estado democrático de direito”, opina.

Leia aqui a íntegra da representação enviada à PGR. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

O que te moveu a entrar com uma representação contra a Sheherazade?

Primeiramente, quando eu estava presidindo a Comissão de Cultura [da Câmara], 40% das nossas pautas foram sobre comunicação, e uma delas tratou da distribuição de verba publicitária. Concluímos que as verbas públicas ainda estavam concentradas nas grandes TVs. E que elas poderiam ser interrompidas caso houvesse denúncia de preconceito ou violação constitucional. Isso foi muito marcante para mim.

Quando foi ao ar a posição editorial da Sheherazade [que deu razão ao grupo de rapazes que espancou e amarrou num poste um adolescente acusado de roubo, no Rio], nós tivemos absoluta convicção de que era uma incitação ao crime e ao ódio. Provocamos a Secom, mas também entendemos que o Ministério Público deveria seguir um caminho próprio. O caso pode servir de parâmetros para outras TVs, para a comunicação brasileira.

Então a ação pede que o SBT responda, e não a Sheherazade…

Obviamente meu problema não é com a Sheherazade, ela tem abertura para fazer o que faz, mas estamos questionando o SBT, que viola a Constituição e dá espaço para a apologia ao crime. A ação entra em embate com o SBT. Ou tira [a jornalista] do ar, ou muda a conduta ou tem que ter punição.

Esses comentários provocam na sociedade a legitimação de quem quer agredir. Ninguém pode trazer para si o poder de julgamento, da barbárie… estamos num estado democrático de direito. Não dá para aumentar esse clima de linchamento público. A pessoa que rouba um celular não é um estuprador, também é preciso avaliar a proporção do crime. É uma coisa séria, e a internet tem sido um palco de opiniões. Sobre a minha representação, houve muitas opiniões, a maioria a favor, mas algumas críticas contra mim também.

E quanto às críticas de que isso seria censura à imprensa?

Isso é um absurdo, não tem censura nenhuma. Ela pode ter opinião, mas não incitar o crime, estimular a ação criminosa. Ela pode ter opiniões de que a sociedade é violenta, de que a polícia não funciona, mas já dizer que cada poste precisa ter uma algema… isso não é uma opinião.

Depois que a Sheherazade deu razão aos “justiceiros”, houve registro de casos em outros estados. Você acredita que tenha sido influência?

Não tenho dúvida. As pessoas dizem “a Sheherazade pensa o que eu penso, eu vou fazer, ela está certa, vamos agir”. As pessoas que querem agredir se sentem legitimadas a agredir. O SBT tem que responder por isso, não pode acobertar uma pessoa que, com toda a liberdade, manda matar. E que isso sirva de parâmetro para outras emissoras.

 

 

Fonte: Brasil 247

 

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