Sete pessoas são mortas após PM ser baleado em SC

Chacina aconteceu em Joinville, a maior cidade do Estado, em menos de três horas, durante a madrugada de domingo (6)

Por Adrieli Evarini, especial para a Ponte Jornalismo

A maior cidade de Santa Catarina viveu um clima de terror na madrugada do último domingo (6). Em três horas, sete pessoas foram assassinadas na zona Sul de Joinville. A chacina começou às 3h30 quando Ederson Bonette Barbosa, de 27 anos e Adão Pereira da Silva, de 37 foram executados no bairro Fátima. Segundo uma testemunha que não vai ser identificada por medida de segurança, e mora próximo ao local onde as mortes ocorreram, cerca de 20 disparos puderam ser ouvidos. “Eu acordei com uma rajada de tiros, foram pelo menos vinte. Quando desci, os dois já estavam mortos e encostados na parede. Umas seis viaturas apareceram, até o Tático esteve ali”, disse.

Na madrugada anterior em um bairro vizinho, o policial militar Alexandre Mauro Padilha sofreu uma tentativa de homicídio na inauguração de um bar. De folga, o policial foi alvejado e está internado em estado gravíssimo no Hospital Municipal São José. Com ele estavam duas armas, uma pertencia ao Estado e a outra era particular. Segundo o tenente coronel do 17º BPM (Batalhão de Polícia Militar), Hélio Putkkammer, as duas foram subtraídas do local e o caso está sob investigação. O suspeito, já identificado pela polícia é menor de idade e já está sendo procurado. O mandado de prisão foi emitido no domingo, mesmo dia em que ocorreram as sete mortes.

Testemunhas que estiveram no local do duplo homicídio, no Fátima, relacionam as mortes à tentativa de homicídio sofrida por Padilha. O irmão de Ederson, Aldair Florenscio Guedes, que fez o reconhecimento do corpo do irmão, afirmou ter ouvido pessoas que viram o local e os corpos dizendo “foi execução e a motivação é o policial baleado sábado”. Além do irmão, a testemunha vizinha ao local onde os primeiros assassinatos ocorreram também confirma que o comentário geral era a ligação entre o crime e o policial baleado. A testemunha ainda afirma ter visto uma pessoa com touca cinza, calça e casaco correndo do local em direção a rua Vasco da Gama, local onde outra morte foi registrada: Alexsandro Muniz Evaristo, de 28 anos foi a terceira vítima da chacina no bairro Fátima.

O relógio corria e com os ponteiros adiantando o raiar do sol de domingo, as mortes continuavam acontecendo na região sul de Joinville. Moradores do bairro Paranaguamirim acionaram a polícia após ouvirem diversos disparos na região da Avenida Kurt Meinert. O chamado não foi suficiente para evitar outras três tragédias na região. Encontrados na via pública, os corpos de Diogo da Rocha Garbari, de 27 anos e Daniel Alves de Lima, de 32 se somaram às três vítimas do bairro Fátima. Os destinos dos cinco se cruzaram de forma trágica e brutal. Executados antes do dia 6 de dezembro amanhecer. Próximo da principal avenida do bairro, na rua Juarez Garcia da Silva, a sexta vítima era assassinada dentro de casa. Com 35 anos e três filhos, André Manolo Corrêa foi executado na própria residência. Além do homicídio, o assassino ainda ateou fogo na casa, onde estavam esposa e filhos de Corrêa, ela sofreu queimaduras.

A sétima vítima foi encontrada próxima ao bairro Morro do Amaral, Valdinei Aparecido de Souza foi atingido por cerca de 20 facadas espalhadas pelo corpo. Segundo a DIC (Divisão de Investigação Criminal), a morte de Souza não deve ter relação com as outras seis e está sendo investigada separadamente, por fugir do padrão das demais.

Órgãos de Segurança devem realizar trabalho conjunto para investigar mortes

Durante todo o domingo (6), reuniões entre os dois Batalhões de Polícia Militar da cidade (17º e 8º), a 5ª Região de Polícia Militar, uma equipe de inteligência da Polícia Militar de Florianópolis e uma equipe da Polícia Civil foram realizadas com o objetivo de traçar planos de ação para a investigação das mortes. A única manifestação do dia da chacina foi do comandante do 17º BPM, Hélio Putkkammer, responsável pela região onde ocorreram as mortes. “O trabalho será realizado em conjunto e esse esforço pretende juntar elementos para entender a dinâmica das ocorrências, que fogem completamente do padrão. O que ocorreu no domingo é um fenômeno estranho e não tem como afirmar agora se as mortes têm ligação. Somente quando esse serviço de inteligência for concluído é que será possível afirmar algo”, disse.

Já na segunda-feira (7), os órgãos de segurança do Estado se manifestaram oficialmente sobre a chacina. Em Florianópolis, o delegado geral da Polícia Civil, Artur Nitz afirmou o que a SSP (Secretaria de Segurança Pública) também acredita que a disputa de facções pelo comando do tráfico de drogas pode ser a responsável pelo massacre. “Tudo leva a crer que seja um confronto entre facções pelo domínio de possíveis locais de venda de drogas, mas essa é uma das linhas de investigação no momento”, afirmou.

Apesar de acreditarem na existência de uma guerra entre facções pelo comando do tráfico de drogas, os órgãos de segurança não refutam a possibilidade levantada pelas testemunhas das primeiras mortes registradas, de que policiais tenham cometido os crimes como forma de represália pela tentativa de homicídio do PM Padilha. O Comando geral da PM solicitou que a Corregedoria da PM acompanhe o caso e as investigações.

Em contrapartida, Putkkammer, apesar de não descartar a hipótese, avaliou, em entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira (7), em Joinville, que “seria burrice. Não teria lógica, em um primeiro momento, a polícia realizar tal ato”, afirmou.

O delegado da DIC responsável pelos inquéritos das mortes ocorridas no domingo, Fabiano Silveira, já instaurou dois inquéritos. Cada um com as três mortes ocorridas em cada bairro – Fátima e Paranaguamirim – excluindo a morte de Valdinei Aparecido de Souza, que está sendo investigada separadamente. O delegado aguarda a comparação balística e os laudos cadavéricos dos corpos, que devem demorar cerca de 10 dias para serem concluídos. Além disso, ainda no domingo alguns familiares foram ouvidos e os depoimentos continuarão a serem tomados.

Segundo os dados da SSP, atualizados até julho, Joinville já registrava 58 mortes, liderando os homicídios dolosos em Santa Catarina, enquanto Criciúma, cidade do sul do estado, que aparecia em segundo nas estatísticas, registrava 32. Depois da chacina ocorrida neste domingo, Joinville, que já havia batido o recorde de homicídios, registra 122 mortes violentas até o momento, em 2015.

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