O Dia Internacional da Mulher Negra, Latina e Caribenha foi lembrado com uma roda de conversa no Museu da Maré
Por Jaqueline Deister, do Brasil de Fato
Ao longo desta semana, defensores de direitos humanos e integrantes de movimentos populares do Brasil e de mais 15 países estão reunidos na terceira edição do “Julho Negro” para compartilhar experiências e debater sobre o racismo, a criminalização da pobreza e a militarização do Estado.Durante a programação do evento, que acontece até sexta-feira (27), o dia 25 de julho que marca a data Internacional da Mulher Negra, Latina e Caribenha foi lembrado com uma roda de conversa no Museu da Maré, localizado no Conjunto de Favelas da Maré, no Rio de Janeiro. A mesa contou com a presença de mulheres que atuam na área dos direitos humanos no Brasil, no México, no Chile e na Colômbia.Anielle Franco, professora e irmã da vereadora Marielle Franco, assassinada há mais de quatro meses no Rio de Janeiro, destacou que o “Julho Negro” é um espaço de união para fortalecer a população que é afetada pela violência do Estado. Ela falou também sobre a iniciativa Papo Franco que será lançada na sexta-feira (27), às 19h, no Centro Teatro do Oprimido (CTO), em homenagem à Marielle. Segundo a professora, o projeto surge durante a campanha da vereadora em 2016 e se consolida em 2018.
“Durante a campanha, algumas pessoas chamavam a gente de favelada, preta e sapatão e aquilo nos incomodou muito. Eu juntei com uma amiga e começamos a ir em escolas, orfanatos, para tentar fazer palestras e explicar essa violência de gênero que estava muito grande. A Mari ajudava a gente com os tópicos. Quando entramos em 2018, decidimos continuar. Não tínhamos um nome. Quando mataram Marielle, duas semanas antes nós falamos sobre isso e a ideia era fazer alguma coisa de lançamento para o mês da mulher negra, mas não decidimos nada. Ai matam ela e quando foi final de abril para maio, eu sonhei com a Marielle pela primeira vez e ela chegava para mim e falava: ‘E o Papo Franco, como que vai ser?’ Então, posso dizer que a iniciativa ressurge de um sonho”, explica.
A roda de conversa no Museu da Maré contou também com a presença da professora colombiana de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC), Maria Elena Rodriguez. Para ela, as mulheres são as principais protagonistas nas lutas em defesa dos direitos humanos.
“As mulheres são as maiores defensoras de direitos humanos. Elas rompem o medo, a discriminação, a ideia do racismo. Elas se posicionam e defendem com a sua vida os direitos humanos. Isso é algo muito importante”, ressalta a pesquisadora.
Além de rodas de conversa, o “Julho Negro” conta também com exibições de filmes e oficinas que ampliam o debate sobre as práticas racistas realizadas pelo Estado, além de contribuir para o fortalecimento das iniciativas populares de resistência à violação de direitos.
Gizele Martins, que é moradora do Conjunto de Favelas da Maré e está na organização do evento, destaca que, acima de tudo, o “Julho Negro” alimenta a esperança de que a união das populações afetadas pode transformar a sociedade.
“Acho que o ‘Julho Negro’ para nós, coletivos de favela e para mim, pessoalmente, traz uma esperança, acho que a gente precisa falar que essa esperança vem como foco porque traz um ânimo para a gente que sofre cotidianamente. Precisamos reconhecer que somos fortes e que nossos gritos precisam ecoar para além dos muros visíveis e invisíveis do apartheid”, afirma.
Toda a programação do terceiro “Julho Negro” pode ser consultada pelo evento no Facebook “ III Julho Negro – Internacionalizando a resistência”. As atividades são gratuitas.