Trabalho premiado reflete sobre a mulher negra no Brasil

Dedicada ao Ano Internacional dos Povos Afro-descendentes, a segunda edição do Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras acaba de distinguir o projeto “Afro retratos”, de Renata Felinto, doutoranda do Instituto de Artes (IA) da Unesp, Câmpus de São Paulo. Ela venceu como o melhor trabalho apresentado por artistas da região Sudeste. O prêmio é oferecido pela Fundação Cultural Palmares (FCP) em parceria com o Centro de Apoio ao Desenvolvimento Osvaldo dos Santos Neves (Cadon).

De acordo com Renata, o trabalho utiliza o auto-retrato como forma de auto-conhecimento e de fortalecimento da figura negra pensada nas grandes cidades. “Apresentei 12 pinturas em tinta acrílica sobre papel, todas desenvolvidas a partir de auto-retratos nos quais a constituição física e o fenótipo feminino de afro-descendentes são adotados como mote para refletir sobre quem é a mulher negra brasileira, hoje”, diz a artista.

O resultado, segundo ela, aponta para um caldeirão de etnias, diverso daquele em que predominavam o candomblé e a capoeira, por exemplo. “Já não é mais possível ignorar outras influências, sejam elas americanas ou européias”.

Fascinada pelo tema desde a graduação, também concluída no IA, Renata, de 34 anos, dedicou seu mestrado em Artes Visuais, “Herança africana na arte”, à análise da obra de três artistas brasileiros: Rosana Paulino, de São Paulo, Eustáquio Neves, de Minas Gerais, e Edson Barros, do Rio de Janeiro. “Cada um a seu modo, esses três criadores levantam questões seculares para, em seguida, investigar o que, de fato, permanece como verdade num mundo globalizado”.

“Africanofagias paulistas”

Ao longo do doutorado, Renata vem estudando o termo “afro-brasileiro” quando aplicado às artes. “Críticos e historiadores têm usado essa expressão a partir de sua raiz sociológica, sobrepondo a origem do artista, a cor da sua pele, à criação propriamente dita”, ela explica. “Mas ninguém chama, por exemplo, Portinari de pintor ‘ítalo-brasileiro’, e sim de ‘modernista’. E Tomie Ohtake é ‘abstracionista’, não ‘nipo-brasileira'”.

Com passagens pela Pinacoteca do Estado, onde foi responsável pela mostra “Africanofagias paulistas”, em 2011, e também tendo trabalhado no Instituto Cultural Itaú e no Museu Afro Brasil, onde se dedicou à arte-educação durante seis anos, Renata pretende perseverar nessa trilha de desmistificação da mulher negra.

“Entre os auto-retratos, há rostos com traços japoneses, vikings ou quéchuas”, diz. “No meio caminho entre a tendência à eugenia, ao ‘embranquecimento’ da raça negra, e a manutenção de estereótipos, vale a pena tentar ver as coisas como elas de fato são”.

O prêmio outorgado a Renata, de R$ 30 mil, será destinado à produção de uma exposição, que deve ser aberta até, no máximo, o dia 30 de agosto de 2012, em local a ser definido.

Além das 12 obras, a mostra será acompanhada por três atividades: a oficina “A presença da mulher negra e afro-descendente como protagonista da cena artística contemporânea”; a exibição de um documentário sobre dança, realizado pela bailaria da Unicamp Luciane Ramos; e performances da atriz Maria Gal, da USP.

 

Fonte: Portal Universidade

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