TV Globo demite diretor acusado de racismo, mas diz que razão foi assédio moral

Denúncia foi feita por três atrizes do elenco de 'Nos Tempos do Imperador'

O diretor artístico da novela “Nos Tempos do Imperador”, Vinicius Coimbra, foi demitido pela TV Globo nesta sexta (11).

A informação foi confirmada pelo advogado do profissional, Davi Tangerino.

Ele esclarece, no entanto, que a emissora informou a Coimbra que ele estava sendo desligado da empresa sob o argumento de que praticou assédio moral.

A TV Globo, por sua vez, afirma que não comenta “apurações de relatos recebidos por sua ouvidoria, em razão de sigilo [leia a íntegra da nota da emissora abaixo]”.

O profissional foi acusado de racismo por três atrizes da trama.

A informação foi antecipada pela coluna em fevereiro.

As queixas chegaram ao compliance da emissora, que abriu um procedimento. Ele já foi notificado da decisão.

Procurada, a Globo diz que não expõe apurações de sua ouvidoria “em razão do sigilo garantido a todos os colaboradores em seu código de ética” e que, por isso, não vai se manifestar sobre a demissão.

“Preconceito racial é uma prática não tolerada pela Globo”, afirma a emissora. “Mas reconhecemos que, como ocorre em todos os segmentos da sociedade, há muito a avançar no caminho da diversidade, para além das rigorosas regras de compliance que praticamos no nosso dia a dia a esse respeito”, segue.

“Em relação à novela ‘Nos Tempos do Imperador’, a empresa acredita que poderia ter adotado precauções extras para abordar a temática racial, nas diversas dimensões que a produção exigia”, continua.

Em nota enviada à coluna, Vinicius Coimbra afirma que foi comunicado do seu desligamento por assédio moral. “Nas últimas semanas, muito foi dito a meu respeito. Por isso, agradeço àqueles que prezaram por uma apuração responsável dos fatos, sem atribuir a mim atitudes que não condizem com a minha índole, minha história ou que não são da minha competência”, diz.

“Como homem branco, porém, reconheço minha responsabilidade por atitudes que reproduzem privilégios. Eu sinceramente não gostaria que isso tivesse acontecido e estou empenhado para que não se repita. Desculpei-me à época e me desculpo novamente. Reafirmo meu profundo respeito pelo elenco da novela. Quero poder contribuir para juntos repararmos esta situação e construirmos um futuro melhor”, continua.

Segundo consta na queixa levada ao compliance, artistas negros da novela das seis teriam sofrido diferença de tratamento no ambiente de trabalho em relação ao elenco formado por atores brancos.

Logo após sua estreia, em agosto de 2021, a novela que se passa durante o Brasil Império foi criticada por “romantizar a escravidão” e apresentar erros factuais.

A cena em que a mocinha sugere ter sofrido preconceito por ser branca, o chamado racismo reverso, fez com que uma das autoras da novela, Thereza Falcão, pedisse desculpas públicas pelo “erro grosseiro”. Após o ocorrido, a Globo contratou uma revisora histórica para apontar erros e imprecisões no texto.

“Nos Tempos do Imperador” é assinada por Falcão e ​Alessandro Marson.

Leia, abaixo, a íntegra da nota enviada pela TV Globo à coluna:

“Sobre a sua consulta e em relação a notícias recentes a respeito de denúncias envolvendo a novela ‘Nos Tempos do Imperador’, a Globo reitera que não expõe apurações de relatos recebidos por sua ouvidoria, em razão do sigilo garantido a todos os colaboradores em seu código de ética e que, por isso, não vai se manifestar sobre o assunto.

Preconceito racial é uma prática não tolerada pela Globo. A fim de manter seu ambiente corporativo livre de discriminação, a empresa conta com um sistema de compliance atuante, com treinamentos de conscientização frequentes de seus colaboradores e um código de ética que proíbe a discriminação e pune severamente as violações apuradas.

Mas reconhecemos que, como ocorre em todos os segmentos da sociedade, há muito a avançar no caminho da diversidade, para além das rigorosas regras de compliance que praticamos no nosso dia a dia a esse respeito. Em relação à novela ‘Nos Tempos do Imperador’, a empresa acredita que poderia ter adotado precauções extras para abordar a temática racial, nas diversas dimensões que a produção exigia. Nesse sentido, foram identificadas oportunidades de aperfeiçoar nossos processos internos para tratar adequadamente esta e outras temáticas sensíveis, garantindo que sua abordagem contribua para o avanço no caminho da diversidade, preservando a sensibilidade do público e de nossos colaboradores.

Este processo contínuo em busca de oportunidades de melhoria é possível em virtude da crença da Globo no permanente diálogo e na criação de mecanismos para intensificá-lo, especialmente com seus colaboradores, que desde o ano passado estão engajados em treinamentos específicos sobre Diversidade e Inclusão e em grupos de afinidades de mulheres, negros e negras, LGBTQIA+ e pessoas com deficiência para a promoção de ambientes cada vez mais inclusivos e representativos. Através de iniciativas como essas, conduzidas pela área de Diversidade e Inclusão, criada em 2020, e que fazem parte da ampla política de diversidade da empresa, a Globo avança e aperfeiçoa seus processos internos, atenta sempre para as legítimas demandas que se apresentam, sem perder o foco nos princípios que constituem a sua essência.”

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

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