Um ano depois, mortes de Emily e Rebecca permanecem sem solução; ‘O que resta é indignação’, diz avó

Enviado por / FontePor Henrique Coelho, G1

Inquérito, um ano depois, ainda não foi finalizado; polícia tenta descobrir de onde partiu disparo que vitimou as crianças. Não havia confronto no momento em que elas foram atingidas, segundo a investigação.

No dia 4 de dezembro de 2020, Emily Victoria da Silva, de 4 anos, e Rebecca Beatriz Rodrigues Santos, de 7 anos, foram baleadas e morreram enquanto brincavam na porta de casa, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Até esta sexta-feira (3), quase um ano depois, o caso ainda não tem uma solução.

Segundo a Polícia Civil, o inquérito está perto da conclusão. Os investigadores ainda não sabem se o tiro foi disparado por policiais, como alegaram testemunhas e familiares de Emily e Rebecca, ou se o disparo foi feito por criminosos.

A avó de Rebecca e tia-avó de Emily, Lídia da Silva Moreira Santos, de 52 anos, diz que a família recebeu pouca informação da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, que investiga o caso. Ela questiona porque outros casos que vieram depois tiveram soluções mais rápidas:

“A gente fica indignada, porque outros casos vieram; do Henry, (Borel) por exemplo, em dois meses foi solucionado. E a nossa, só porque são crianças de favela, de comunidade, não estão nem aí. Deixam passar, querem nos ganhar pelo cansaço. O que resta é saudade, indignação e revolta”, avaliou.

“O inquérito está pronto, só falta o delegado avaliar tudo, a perícia está pronta, e eles não dão a resposta que a gente pede”, disse a avó de Rebecca e tia-avó de Emily, Lídia da Silva Moreira Santos, de 52 anos.

Segundo a Polícia Civil, não havia confronto entre policiais e criminosos no momento em que as meninas foram atingidas. A informação é corroborada por Lídia.

“Eu estava atrás do carro, saltando do ônibus no momento, e ouvi os tiros de um único lado, que foi o lado da polícia, de muito perto. É uma certeza que eu tenho, eu não tenho dúvidas sobre isso”, afirmou.

Todos os cinco policiais ouvidos afirmaram que estavam na região para tentar recuperar um carro roubado, que alegaram que estava na comunidade do Sapinho, e negaram ter disparado qualquer tiro naquela noite.

Os PMs disseram que, depois de não terem obtido sucesso em terem conseguido encontrar o carro roubado, voltaram à base onde estavam, na Avenida Gomes Freire. Só depois disso, ouviram os disparos dentro da Rua Binha. Mais uma vez, todos negaram ter feito qualquer disparo.

Logo depois, já no Batalhão, eles contaram à polícia que souberam pelo rádio que duas crianças haviam sido baleadas.

Último encontro

Lídia contou que passou o dia anterior à morte das duas com elas na sua casa em Duque de Caxias. Ela relatou ao g1 um pouco da rotina de “bagunça” quando Emily e Rebecca estavam na casa:

“A casa dela ficava no mesmo quintal que o meu. Ela acordava mais cedo que eu, e ficava na janelinha esperando, via movimento na minha cozinha e falava: ‘Benção, vó, dormiu bem?, corria para minha casa. Logo depois vinha Emily e aí a bagunça era normal lá em casa o tempo todo. Elas eram crianças felizes, espertas, inteligentes. Eram a nossa razão de viver”

“A Rebecca era minha única neta. Como eu não tive filha menina, ela ficava muito comigo. Até os seis anos ela morou comigo. Ela sempre escolhia ficar na minha casa”, contou Lídia, saudosa.

Reconstituição e laudo

Os depoimentos na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, tanto de policiais quanto de vizinhos das primas, são unânimes: não havia confronto no momento em que os disparos atingiram as primas, na Rua Binha, próxima a Avenida Gomes Freire.

A reprodução simulada das mortes foi realizada em março de 2021.

Treze dias depois do crime, a perícia da Secretaria de Polícia Civil do RJ analisou a bala encontrada no corpo de Rebecca, mas o laudo foi “inconclusivo”. O resultado descartou a possibilidade de a bala ter saído de um fuzil calibre 556, como mostrou uma reportagem da TV Globo.

Laudos indicam que os tiros atingiram órgãos como o fígado, coração e a cabeça das meninas.

Lei Ágatha

Em fevereiro, a Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ entregou uma petição à Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense pedindo prioridade na investigação das mortes das meninas Emily Victória, de 4 anos, e Rebecca Rodrigues Santos, de 7 anos.

Na petição, os membros da Comissão de Direitos Humanos pediram prioridade baseados na Lei Ágatha, aprovada em 2021 pela Alerj.

A lei foi escrita em homenagem à menina Ágatha Félix, que morreu no Alemão em 2019 após ter sido atingida por um tiro de fuzil dentro de uma van.

O tiro partiu da arma de um policial militar, que posteriormente foi afastado e se tornou réu pelo crime de homicídio culposo, por erro de execução.

Segundo as investigações, o policial tentara atingir dois traficantes que passavam em uma moto, mas o projétil ricocheteou e atingiu Ágatha no interior do veículo.

No texto da lei 9.180/21, consta que há “garantia de prioridade na tramitação dos procedimentos investigatórios que visem à apuração e responsabilização de crimes contra a vida e outros crimes com resultado morte, inclusive na modalidade tentada, que tenham como vítimas crianças e adolescentes” no Estado do Rio de Janeiro.

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