Há outros pontos críticos no mapa da União Europeia. Ora veja: na Áustria, o partido da Liberdade, de Heinz Christian Strache; na Hungria, o Jobbik, de Gábor Vona; na Grécia, a Aurora Dourada, de Nikos Michaloliakos, em prisão preventiva na sequência da morte de um rapper; na Bélgica, o Interesse Flamengo, de Frank Vanhecke; em Itália, a Liga do Norte, de Matteo Salvini.
Não são todos iguais, dir-me-á. Não são. Servem-se, porém, todos do ressentimento — ou mesmo ódio — pelo “outro”, pelo que é “diferente”.
O “outro” não é só quem vem de África, tantas vezes arriscando-se a morrer no Mediterrâneo, nem do Médio Oriente, amiúde valendo-se da porosidade da fronteira grega. Pode ser o oriundo dos países do Sul da Europa, que a imprensa inglesa se apressou a designar de PIGS – iniciais de Portugal, Itália, Grécia e Espanha -, ou de Leste, sobretudo da Roménia e da Bulgária, com grandes comunidades de etnia cigana.
Não é que esteja surpreendida. “Quando há uma crise tão grande, em tantos países, há uma série de processos que se desenvolvem. E, com eles, o medo, o ódio, a xenofobia, o racismo relacionados com o nacionalismo, com o populismo, com o proteccionismo”, explicou-me, no princípio da crise, o sociólogo francês Michel Wieviorka. Isso pode levar à violência, mas também à apatia.
Agora, ao olhar para as sondagens, lembro-me daquela curta conversa, numa sala da Universidade do Minho, e arrepio-me. À memória de Wieviorka veio um livro que lera sobre uma pequena cidade na Áustria.
No início da grande crise de 1929, muitas pessoas sentiam-se desencorajadas, apáticas, tomadas pela sensação de impotência. Anos depois, eram nazis. Já imaginou?
Fonte: DNotícias