Unesp debate racismo contra alunos africanos em Araraquara, SP

Em abril, grupo de estudantes foi hostilizado com frases ofensivas. Evento discutirá o caso e as relações da África com o Brasil.

Com o tema “África, racismo e xenofobia”, a Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araraquara (SP) promove um debate sobre o assunto a partir desta quarta-feira (16). O evento reunirá pesquisadores que estudam o continente africano e suas relações com o Brasil.

A mesa de abertura do evento, que segue até a próxima sexta-feira (18), coloca em questão as manifestações de cunho racista contra alunos africanos ocorridas na faculdade, em abril, e denunciadas pela Unesp à Polícia Civil, à Polícia Federal e ao Ministério Público.

Na ocasião, uma pichação em uma parede da faculdade com os dizeres “sem cotas para os animais da África” levou um grupo formado por dez alunos, beneficiados pelo Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), do Governo Federal, a registrar um boletim de ocorrência sobre o caso. As frases ofensivas geraram manifestações dentro e fora da universidade e o caso ganhou repercussão nacional.

O campus conta com 26 estudantes oriundos da África, sendo 23 na Faculdade de Ciências e Letras, dois no Instituto de Química e um na Faculdade de Ciências Farmacêuticas, que vieram estudar no Brasil por meio de um convênio internacional.

Programação

A mesa-redonda “Intercâmbio estudantil, racismo e xenofobia – a visão dos alunos africanos: depoimentos e reflexões” será realizada nesta quarta-feira, das 9h30 às 13h, e deverá contar com a participação de alunos dos países Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Congo.

O tema prossegue na segunda mesa-redonda, “O racismo e suas facetas no Brasil na visão dos grupos de estudos e pesquisas”, com início às 14h, quando serão apresentadas as análises de pesquisadores do Nupe (Núcleo Negro da Unesp para Pesquisa e Extensão) e do Cladin (Centro de Estudos de Culturas e Línguas Africanas e da Diáspora Negra).

Temas acadêmicos também estarão em pauta, como na mesa “Relação Brasil-África do Séc. XX ao XXI: a universidade e a internacionalização” e nas discussões sobre os intercâmbios e acordos científicos firmados entre o Brasil e os Palop (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), grupo formado por cinco países lusófonos africanos, ex-colônias de Portugal na África e que obtiveram a independência entre 1973 e 1975 (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe).

Segundo o antropólogo Dagoberto Fonseca, professor da Unesp e coordenador do Cladin, a reunião do Lead, que teria como tema a universidade e a internacionalização da África no século 21, não perderá de vista a questão acadêmica. Ele reforça que, em função do que ocorreu em abril, a coordenação foi obrigada a introduzir uma questão mais política e discutir o racismo. Para ele, não abordar o tema seria fazer de conta que nada aconteceu.

No sábado (19), um evento cultural encerrará as atividades, com comidas, músicas e danças típicas africanas e afro-brasileiras, na Chácara Sapucaia, em Araraquara, a partir das 12h.

 

 

Fonte: Marataizes

+ sobre o tema

Prevalece racismo e exclusão social em Porto Rico

O racismo e a exclusão social, tantas vezes desmentidos...

Jovens marcados para morrer em área de UPP

ALESSANDRO LO-BIANCO E JOÃO ANTONIO BARROS Policial lotado no Andaraí relata que...

Branquidade e Racialização: qual é o lugar da educação?

por Liv Sovik UFRJ enviado para o Portal Geledés Conferência de abertura 8oSBECE...

Jamais os brancos pensariam situações que emergem das percepções dos negros

Não terceirizamos as vozes negras!   “Ninguém pode me ensinar quem...

para lembrar

Comentarista da ESPN vê “componente racista” em críticas a Cristóvão Borges

Talvez não exista outro técnico brasileiro no momento que...

Nota oficial de Ivanir dos Santos: O que aprendi com a tolerância

Como professor de História Comparada, aprendi que quase 400...

Após acusações de racismo, proprietário do Real Salt Lake venderá time

Após ser acusado de ter feito declarações racistas sobre...

Kabengele Munanga: “A educação colabora para a perpetuação do racismo”

a Adriana Marcolini Nascido no antigo Zaire, atual República Democrática...
spot_imgspot_img

Relatório da Anistia Internacional mostra violência policial no mundo

Violência policial, dificuldade da população em acessar direitos básicos, demora na demarcação de terras indígenas e na titulação de territórios quilombolas são alguns dos...

Aos 45 anos, ‘Cadernos Negros’ ainda é leitura obrigatória em meio à luta literária

Acabo de ler "Cadernos Negros: Poemas Afro-Brasileiros", volume 45, edição do coletivo Quilombhoje Literatura, publicação organizada com afinco pelos escritores Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa. O número 45...

CCJ do Senado aprova projeto que amplia cotas raciais para concursos

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou nesta quarta-feira (24), por 16 votos a 10, o projeto de lei (PL) que prorroga por dez...
-+=