Vitória contra o racismo

Cidade americana famosa por ter sido palco de crimes raciais na década de 60 elege o seu primeiro prefeito negro

Para o americano James Young, sua vitória pode ser comparada a uma “bomba atômica da mudança”. Famosa por ser uma das cidades mais racistas dos EUA e por ter sido o palco de um triplo homicídio de ativistas dos direitos civis na década de 60 – crime que inspirou o filme Mississippi em Chamas -, Philadelphia, no Mississippi, sul dos EUA, elegeu esta semana o primeiro prefeito negro de sua história.

Possivelmente beneficiado por um “efeito Barack Obama”, Young, 53 anos, derrotou o atual prefeito, Rayburn Waddell, por uma diferença de apenas 46 votos. Aproximadamente 55% dos 8 mil habitantes da cidade são brancos, como Waddell.

– Eu não poderia imaginar isso nem em um conto de fadas. Quem poderia prever que um garoto do campo como eu se tornaria prefeito de Philadelphia? Principalmente levando em conta a forma como fomos tratados – disse Young à rede de TV CNN, derramando-se em lágrimas.

O prefeito eleito ainda recorda a época, durante sua infância, em que o grupo racista Ku Klux Klan atormentava seu bairro. Lembra também a imagem do pai segurando uma arma na sala, preparado para atirar contra qualquer um que ameaçasse a família.

Philadelphia – que não deve ser confundida com a cidade homônima mais famosa, no Estado da Pensilvânia – entrou para a história dos EUA em 21 de junho de 1964. Nesse dia, três ativistas dos direitos civis – James Chaney, 21 anos, negro, Andrew Goodman, 20, e Michael Schwerner, 24, ambos brancos – foram mortos a tiros pela Ku Klux Klan na entrada da localidade.

Young afirma que, hoje, passados quase 45 anos, alguns moradores ainda não votariam nele pelo simples fato de ser negro, mas acredita que esse número vem encolhendo cada vez mais à medida que o tempo passa.

– Temos alguns que jamais mudarão. É preciso conviver com isso – diz.

O prefeito eleito atribui a vitória à campanha corpo-a-corpo. Um dos primeiros alunos negros a estudar em um colégio branco em Philadelphia, ele foi paramédico e também é um líder religioso pentecostal.

Matéria original: Vitória contra o racismo

Do Zero Hora

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