Salma bint Hizab al-Oteibi foi o primeiro nome a ser anunciado. Foi eleita na região de Meca, num círculo onde concorreu contra sete homens.
Por Alexandre Martins Do Publico
Muito se sabe sobre a forma como as mulheres são tratadas na Arábia Saudita, mas pouco se sabia sobre a vida de uma delas em particular. Este domingo, Salma bint Hizab al-Oteibi saiu do anonimato e deu um passo que pode ser importante para as mudanças que tardam em chegar ao reino – foi a primeira mulher eleita para um cargo público, nas primeiras eleições de sempre em que os homens não foram os únicos a concorrer e a votar.
No sábado, os sauditas foram às urnas apenas pela terceira vez em meio século, para preencherem os pouco relevantes cargos nas divisões municipais. Mas o simbolismo deste acto eleitoral em particular ultrapassou em muito a importância do seu impacto na vida política do país – pela primeira vez, a Arábia Saudita permitiu que as mulheres pudessem votar e ser eleitas, embora inúmeras restrições tenham feito com que os boletins apresentassem 978 mulheres e 5938 homens.
Os primeiros resultados só começaram a ser anunciados este domingo, e para muitas activistas sauditas a eleição de uma mulher seria apenas a cereja no topo do bolo. No sábado, uma das eleitoras, Hatoon al-Fassi, dizia à BBC que não queria saber dos resultados, nem estava preocupada com a hipótese de nenhuma mulher ser eleita: “É uma sensação excelente. É um momento histórico. Agradeço a Deus estar a vivê-lo. (…) O que realmente interessa é que pudemos exercer este direito.”
Mas Hatoon terá agora mais motivos para festejar, depois de as autoridades locais terem começado a divulgar os resultados. Para além de Salma bint Hizab al-Oteibi, que foi eleita no distrito de Madrika (em Meca, a cidade mais sagrada para o islão), outras 16 mulheres mereceram a confiança dos eleitores. De acordo com a comissão eleitoral, Salma concorreu com sete homens e duas mulheres para um lugar no conselho municipal da sua região.
Congratulations to Salma bint Hizab al-Oteibi. First woman Councillor in #Saudi ?? #SaudiArabElection #Mecca pic.twitter.com/YdlMADm6hH
— هند الإرياني (@HindAleryani) 13 dezembro 2015
Nem todas as identidades das eleitas tinham sido divulgadas ao final da tarde de domingo (hora de Portugal continental), mas já estavam disponíveis alguns dos nomes que começaram a receber os parabéns através das redes sociais: Huda, eleita em Riad; Lama, Rasha, Sana e Massoumeh, em Jedah; Hanouf, em al-Jawf; Mina e Fadhila, em Arar; Khadra, em Qatif; Aisha, em Jazan.
“Ficaríamos muito orgulhosas nem que tivesse sido eleita apenas uma. Sinceramente, não esperávamos que alguma delas ganhasse”, disse à agência AFP Sahar Hassan Nasief, uma activista pelos direitos das mulheres que vive em Jedah.
Em 2011, no auge da Primavera Árabe, o rei Abdullah anunciou um modesto pacote de reformas, que incluía uma autorização para que as mulheres pudessem votar nas eleições municipais de 2015. Abdullah morreu em Janeiro, mas o seu sucessor, Salman, cumpriu a promessa, mesmo que o seu ainda curto reinado esteja a assumir uma linha ainda mais conservadora.
A participação nas eleições de sábado não ultrapassou os 25%; os novos representantes municipais pouco mais podem fazer do que gerir a recolha de lixo e cuidar de jardins; e o número de eleitores registados é apenas mais um sinal de que muito está ainda por fazer – 130 mil mulheres e 1,35 milhões de homens. Mas, quando se olha para as percentagens de participação divididas por género, em pelo menos duas regiões, percebe-se que muitas mulheres não perderam esta oportunidade para enviarem mais um sinal ao regime: na região de Baha, cerca de 82% das mulheres registadas foram votar, contra cerca de 50% dos homens; em Asir, a participação das mulheres chegou a 79%, contra 52% entre os homens, segundo a agência AFP.
O facto de as mulheres sauditas precisarem da autorização de um homem para tomarem várias decisões nas suas vidas limitou o número de candidatas – durante a campanha, por exemplo, as mulheres não podiam expor as suas ideias falando directamente com os homens, e as suas caras não podiam ser estampadas em cartazes.