Mulher que ofendeu professoras responde por racismo e injúria racial em MG

Inquérito da Polícia Civil concluiu que houve a prática dos crimes em áudios compartilhados pelo WhatsApp em Araporã.

Por Caroline Aleixo, G1 

Trecho de áudio compartilhado por WhatsApp com ofensas racistas a professoras de Araporã (Foto: Reprodução/TV Integração)

A mãe que compartilhou ofensas a duas professoras negras da rede municipal de ensino em Araporã, no mês de agosto, foi indiciada pelos crimes de racismo e injúria racial. De acordo com o delegado de Tupaciguara que conduziu as investigações, Armando Papacídero, ficou claro que houve a prática dos crimes nos áudios enviados pela investigada por meio do WhatsApp.

“Ela reconhece todos os áudios que enviou para uma outra professora, mas expressa arrependimento. Ela justifica que foram em tom de brincadeira e que não tinha a intenção de ofender as vítimas”, disse o delegado.

O caso causou comoção na cidade de Araporã e o depoimento da mulher foi realizado no dia 28 de agosto, na delegacia de Tupaciguara, uma vez que o advogado de defesa temia que a cliente fosse linchada pelos moradores.

O inquérito foi finalizado e remetido ao Judiciário no dia 14 de setembro. O indiciamento pela injúria ocorreu em virtude de as ofensas serem destinadas às duas professoras, ao mesmo tempo que ela também teria praticado racismo ao ofender pessoas negras em geral. Se condenada, a mulher pode pegar de um a seis anos de reclusão além de ser submetida a pagamento de multa.

O nome da acusada não foi citado no texto porque o G1 não conseguiu contato com a defesa da mesma na manhã desta quinta-feira (12).

Relembre o caso

Tudo começou quando as docentes Roberta Renout e Vanilda Batista de Oliveira foram transferidas de escola e assumiram as salas de aula das duas filhas da acusada. As mudanças desagradaram a mãe das alunas que enviou para outra professora áudios via WhatsApp com diversas ofensas racistas.

Nos arquivos, a mulher conta à antiga professora da turma que foi até a escola contestar as mudanças e que achava ruim a saída da servidora para a entrada de uma educadora negra na sala do quinto ano, pois não gostava de pessoas negras. A mulher ainda disse que foi até a escola da outra filha e ficou sabendo que Roberta, também negra, tinha assumido a turma.

Professora de Araporã, Roberta Renout, foi vítima de preconceito racial (Foto: Roberta Renout/Arquivo Pessoal )

“Agora é uma tal de Roberta Renout. Nega feia do beiço revirado. Pra passar batom naquele beiço, gasta uns quatro. […] Eu não dou certo com preto. […] De preto, eu só gosto de Coca Zero porque tenho diabetes. Eu não ‘tô’ agradando disso não [sic]. Não gosto de preto mesmo. Todos [em] que chego perto é ‘subaquento’”, disse a mulher em alguns trechos da conversa.

Em determinado momento, uma criança, aparentemente aluna de uma das professoras, interfere no áudio da mãe e diz: “Que chato, tia. Tudo negra, tudo preto.”

Os áudios viralizaram nas redes sociais e motivaram uma campanha aderida pela população e pela prefeita da cidade, Renata Borges , que trazia no perfil dos usuários no Facebook os dizeres “diga não ao preconceito” e “contra o racismo”.

O Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE) de Uberlândia, junto à Secretaria de Combate ao Racismo da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT-MG), também publicou uma moção de repúdio à postura racista da mãe.

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