Livro destaca a resistência do povo negro

Para irromper as vozes de narrativas dominantes que abordam os contingentes escravizados como “acomodados” em sua posição subalterna, o professor sorocabano Ademir Barros dos Santos lança na quinta-feira (28), às 10h, no Núcleo de Cultura Afro-Brasileira (Nucab), da Uniso, campus Raposo Tavares, o livro “Sobre revoltas de escravos e quilombos”, escrito em parceria com o escritor português Nuno Rebocho.

Por Felipe Shikama Do Jornal Cruzeiro

‘O quilombo que, no passado era físico, hoje é intelectual, e nós temos que fazer o enfrentamento’, diz Santos – FÁBIO ROGÉRIO / ARQUIVO JCS (18/11/14)

 

A obra acompanha um CD com músicas e declamações de poemas inspirados na literatura negra, com participação de dezenas de artistas da região. A entrada é gratuita e o livro estará à venda por R$ 50. Após a sessão de autógrafos, a obra poderá ser adquirida com autor pelo e-mail [email protected].

Lançado pela editora AMC Guedes, o livro de 107 páginas se contrapõe ao coro corrente que ignora as lutas dos povos negros escravizados e, de acordo com Santos, ajuda a pavimentar o chamado “racismo estrutural”.

Segundo o autor, mestre em educação pela Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), ao contrário do que é voz corrente, em nenhum momento os contingentes escravizados sentiram-se acomodados na posição de subalternos; pelo contrário: lutaram constantemente, produzindo, por si próprios, formas, muitas vezes subterrâneas e imperceptíveis, de resistência, apesar da violência a que se viram submetidos ao longo de todo o processo de escravidão.

Ademir detalha que o livro é resultado de um estudo desenvolvido em parceria com Rebocho, no qual investigaram os primeiros e principais registros de revoltas de escravos, primeiramente em Cabo Verde — que abrigava o maior entreposto de escravos do século 16 — e nas Américas do Sul e Central, com os quilombos.

“O mote do livro é desmanchar esse tipo de imagem [de passividade dos escravizados]. A resistência do povo negro sempre existiu”, afirma.

De acordo com o pesquisador, a obra também procura mostrar como essa resistência histórica se reflete nos dias de hoje, em diferentes espaços e instâncias de luta pela igualdade racial. “O quilombo que, no passado era físico, hoje é intelectual, e nós temos que fazer o enfrentamento. Por isso, o livro será lançado na universidade, no Nucab, do qual eu faço parte”, complementa.

O professor sorocabano detalha que a obra foi escrita a distância, já que ainda não teve a oportunidade de conhecer Nuno Rebocho pessoalmente.

A proximidade com o intelectual português começou há três anos, via internet, por meio de um jornal eletrônico que publicou textos de ambos, sobre pesquisas ligadas à resistência do processo escravista. “A tecnologia [da internet] encurtou esse oceano que nos separa”, diz.

O livro acompanha um CD produzido por Ademir em parceria com os estúdios da Comunidade do Tambor, com poemas e músicas baseados na literatura negra que, na definição do poeta Éle Semog, é aquela que ou exalta a negritude ou denuncia o racismo.

Intitulado “O que nos abala”, o álbum reúne poesias de Semog, de Ademir, que artisticamente assina como Ed Multado, do moçambicano Morgado Mbalate e do historiador sorocabano Carlos Carvalho Cavalheiro. O disco conta, ainda, com músicas inéditas compostas e interpretadas por músicos sorocabanos como Cláudio Silva e Ananda Jaques.

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